terça-feira, 30 de outubro de 2012

Sem Ai, Nem Ui


Sem ai, nem ui.

Sem ai, nem ui. Foi assim que sempre seguiu a vida.

Aos três anos e meio, encantada com a fogueira e as histórias de pessoas que a cercavam,  calçava sapatinhos de lã e quis chegar mais perto. Claro que se machucou.
Das bolhas e dos cuidados excessivos do pai e da mãe, ficou a lição – quem brinca com fogo faz xixi na cama. Nem ligou para a bolha que cobria seu pequeno pé.
Desde pequenina tinha um certo fascínio pelas feridas e cicatrizes. Parece que previa que teria um monte delas quando crescesse. As feridas lhe deram a certeza de que viveu! E as cicatrizes, a certeza de que o tempo cura, mas não apaga.

Aos sete, enquanto brincava de ser she-ra com a irmã, deslizou no golpe que ela tinha certeza que poderia voar. Tirou os dois pés do chão e foi preciso apoiar com o braço. Das duas cirurgias e do braço imobilizado por quase três meses, ficou a lição – Voe alto. Mas voe para ver do céu o que é seu no chão. E nunca para golpear certeiro a fim de ferir alguém.

Subia em árvores, se aventurava entre patins, skates, bicicletas e carrinhos de rolimã.
Adorava a sensação do perigo, da velocidade e o frio na barriga valia até a bronca certeira da mãe.
Caiu muito. Se machucou tanto. Mas nunca deixou de viver a vida como uma brincadeira gostosa de criança. Do tempo que passou, as cicatrizes e nenhuma seqüela. Do que ainda lhe resta de quando criança? A coragem e o gosto bom de sonhar.
Hoje, apesar de saber que não é a she-ra ou nenhuma outra heroína, se salva todos os dias do desgosto destes dias sem poesia e frio na barriga.
E continua a se aventurar sem medo das feridas, pois sabe que um dia serão apenas cicatrizes carregadas de histórias que valeram a pena.
Débora Andrade

Diário De Carnaval


Diário de Carnaval

Abandono a terceira pessoa logo na primeira frase. Assim, como que em um diário, vou me transpor em letras sem vergonha, sem medo, sem receios de críticas ou conotações.
Algumas semanas antes do Carnaval comentei com algumas pessoas que seria meu último carnaval. – Calma! Não, não. Não vou morrer, não. (Pretendo, pelo menos. Já que esta é a única certeza que todos compartilhamos... que vamos partir um dia.) Mas o último no sentido da festa, da liberdade, da solteirice.
Bem cansada destes amores insípidos, inodoros, incolores e indolores... Estava bem empenhada a passar todos os outros carnavais acompanhada de alguém que, talvez, tivesse vontade de trocar uma noite de samba por filme e pipoca.
É verdade... Meus 27 anos tão bem vividos, sem nenhuma gota de arrependimento e muitas doses de intensidade, pesam e me cobram uma nova postura... Um novo sonho... Uma nova vida, talvez.  Casar, ter filhos. Cuidar do trabalho, da casa, dos filhos, do marido. Dosar as idas ao samba, à praia, ao rock... Uau! Tudo isto? E ainda parece melhor que estar sozinha?
Teimosa e cabeça dura. Perdi oportunidades e pessoas incríveis que eu poderia passar o resto da minha vida dosando as danças e as músicas, porque eram música e dança em presença na minha vida... Mas, não... Sempre achei que o bendito “amor” compartilhado deveria ser gigante e exageradamente verdadeiro! E hoje nem sei mais o que é de verdade...
Então, voltemos ao Carnaval. Insisti em uma viagem distante. Onde eu pudesse me ver longe do que tudo que já fui e ainda sou. Um lugar onde as paisagens pudessem preencher meus vazios e o sol pudesse bronzear cicatrizes e deformações, disfarçando a pele de quem já viveu tanto com só (agora só) 27 anos!
Eis que Florianópolis me presenteou com a graça da vista das praias, ilhas e me agraciou com Sol dourado durante oito dias! Me hospedei em um hostel. Era só para economizar, mesmo. Mas o Carnaval, meio que zombando com minha cara e todo aquele pensamento certinho acima, me brinda com novas pessoas. Ahhh... e como eu amo as pessoas, suas histórias, suas diferenças e suas particularidades.
Solteiras. Eram todas solteiras. E entre todas, as mais novas eram A (médica psiquiátrica, capixaba desbravadora de São Paulo), de 25 e eu, com 27.
Me encantei! A energia balzaquiana de uma contadora que se enfeita de minuto em minuto. Com a sua história de superação e mudança de vida. Depois de uma depressão profunda, renegou a condição de ser triste por tempo indeterminado e jogou tudo para o alto. Nova Vida era o nome do seu novo barco. E me deparei com uma mulher forte, determinada a ser feliz a qualquer custo, velejando em um mar de certezas onde a maior delas é: só depende dela! E com ela aprendi que eu posso morrer todos os dias, desde que eu renasça em uma nova vida. Com ela aprendi que é preciso renegar a algumas regalias para entrar neste novo barco, às vezes apertado e desconfortável, mas que te leva a aventuras incríveis sem preocupações de quanto tempo vai durar a viagem.
Da imagem frágil e sorriso doce, a revelação de uma microempresária bem sucedida e superação de histórias dolorosas. Chorei, sem vergonha, com sua história. Dez anos dedicados ao amor, ao relacionamento e um golpe fatal de realidade: era só um sonho de dez anos. 32 anos em carinha de 22 e no coração, o perdão de forma pura que nunca encontrei. Com seu castelo destruído, foi juntando os cacos reconstruindo sem pressa uma casa simples em bases mais sólidas. Encontrou sete estrelas e fez constelação no seu céu. E hoje vive sorrisos diferentes daqueles 10 anos. E em cada km rodado, se sente mais forte e, mesmo de encontro brusco com a realidade, não perdeu a capacidade de sonhar. Só não se precipita em realizar antes de sonhar. Com ela aprendi que perdoar é, também, se doar a si mesmo e se dar uma chance de apagar o passado de dor e guardar só o que existiu de bom.
Do susto, à surpresa. Ela tinha mesmo era cara de senhorita recém-casada. Mas estava lá, no quarto 40, no primeiro beliche e um armário desarrumado. Chegou fazendo barulho, acordando meu sono. Que coisa!
Tinha se mudado para aquele quarto naquele dia. E só por isso o armário estava uma “zona”. Depois, foi possível perceber o quanto era “arrumadinha”. Minhas bagunças eram muito maiores, como sempre. E não é que ela era solteira. Administradora, bióloga e funcionária pública. Dançarina, revelação do surf amador e, caramba!! É isto! Os 37 anos bem vividos da forma que sempre quis, construiu esta imagem de 29 que ela carrega num sorriso largo e numa fala mansa carregada de sotaque paulista. Meu Deus!! Ela estava ali tão feliz. Tão liberta. Tão exuberante. E com ela eu aprendi que a vida não segue uma linha de tempo como sempre nos ensinaram. Que eu não preciso marcar meu último carnaval, porque nada precisa ser último se tivermos vontade!
Ainda têm as cariocas lindas, loiras e bronzeadas. Com elas aprendi que o dia pode ser melhor que a noite quando a cidade tem mais gays lindos do que homens interessantes!
E a amiga de sempre. Aquela que antes dos 24 nem sabia sorrir. E hoje, com 29 recém-feitos, distribui sorrisos e quase se arrisca em uma super gargalhada. Mais desprendida, menos medrosa, quase bem humorada e o mesmo amor e amizade por mim.
Não foi meu último carnaval. Mas foi o primeiro que me deu a certeza de que não é fazendo cartilha que garantimos a felicidade.
Foi o primeiro que me enriqueceu de histórias que não são minhas e, no entanto, me fazem aprender de vida e superação.
Não foi só um Carnaval. Foi um grande encontro com várias formas que eu posso dar à minha vida.  E, em qualquer uma delas, ser feliz sem a menor preocupação de ainda continuar solteira!
Obrigada, meninas. Obrigada, Floripa. E ao Carnaval... Outra vez aprontando comigo, eu digo: - Valeu.
E depois do carnaval... Renovada fé. Reforçada paz. Revivida esperança. Restabelecidas certezas. Posto em dúvida a razão com sua briga constante com a emoção. E declarada a absoluta divindade que é VIVER! E ainda melhor: Conhecer pessoas!
Débora Andrade

Baby


"Baby"

E não precisamos nem mais que uma hora. Embora eu quisesse o tempo do mundo inteiro para perpetuar tuas palavras, teu toque, teu gosto...

Te senti. Me senti.  E todas as tuas palavras, tão livres, encheram meus ouvidos de um som tão bom... Que eu insisti em acreditar. E resolvi “creditar” um pouco de fé no que virá.

Da paz que me doa sem pretensão, retribuo com a tal liberdade que você diz ver em mim e se encantar.
Te dou sorrisos, e em troca, só este teu olhar às vezes sóbrio e, vezes tão misteriosos.

Do calafrio, do frio na barriga, da espera pelas ligações e pelos torpedos, o aumento dilacerado do teu nome no meu espaço.

Ainda em segredo, te guardo em lugar estratégico para depois da chuva, da tempestade que eu sei que virá e para além do arco-íris.

Tua paz em mim, teus segredos revelados e este teu astro... Insistem em me fazer crer que pode ser... sim, pode ser você.

Das tantas incertezas que regem nosso futuro e até nosso presente, já vivo uma única certeza: - Você me faz bem. E eu quero te fazer bem, também. Mesmo que seja só hoje, sem amanhã.
Débora Andrade

E Agora?


E Agora?

E agora? Agora você chega como quem quer ficar, deixe as malas na porta e jogue as pernas sobre o sofá. Deixe um espaço para eu deitar minha cabeça no teu colo e não economize os carinhos e o cafuné.

Com tuas poucas palavras, só me confirma que a escolha foi certa e que eu não preciso temer tanto. Você ainda nem sabe das minhas tempestades, mas trouxe as cores de volta para minha tela.

Tire o controle remoto das minhas mãos. Tome o controle para si daqui adiante. Eu não te disse, mas... me cansei de ter controle de tudo. Apesar de desconfortável, sinto uma emoção constante por me ver sempre surpreendida por você e por mim, pelos meus sentimentos desordenados e uma paixão em meio ao caos.

Me cuide, mas não me faça dormir sem antes te preparar a cama. Nem flores, nem lençóis  de cetim, não. Só quero tirar aqueles travesseiros. Eles carregam muitas dores, muitas lágrimas e angústias que você não precisa saber. Não preciso mais deles. Tenho teu ombro em caso de dor, teu olhar em caso de fuga e teu abraço em caso de medo.

E agora? Agora, talvez, você fique por dois ou três dias... quem sabe um mês ou a vida inteira. Mas chegue como quem chega para ficar. Me abrace com saudade de vinte anos e se jogue pela casa, pela minha vida, em meus braços. Sem promessas, sem planos, sem pontuação.

Chegue...Só chegue como quem quer ficar!
Débora Andrade

Última Vez


Última Vez

Eu só queria um único poder naquele momento: - o de paralisar o tempo.  E ficar ali, em teus braços... Me perdendo e me encontrando em cada terno olhar, em cada minúcia de nós dois.

E percebi que, talvez, o amor seja assim mesmo, sereno e doce. Sem delongas e tempestivas ações. Daquela forma, quase sem jeito, de você me tocar a face e alcançar meu coração.

Talvez, seja mesmo você.

Em cada pausa do teu monólogo, eu admirava tua entrega sem medo. E aquela falta de palavras (tão bem substituída pelo abraço que parecia ter sido feito, especialmente, para toda esta falta que havia em mim) me fez renascer no teu colo.

E eis que, depois de tudo falado e sintetizado no (talvez) beijo mais doce que eu tenha recebido, surge o desespero e a ânsia das lágrimas. Era a última vez? E o nosso silêncio condenou a resposta.  E tuas mãos junto às minhas, cegou o medo e calou a indecisão.

Você é meu instante de paz, embora o fogo me queime ao ter tuas mãos pelo meu corpo.
É meu resumo do dia quando, no balanço, existem mais sorrisos que caretas.

Te tenho em mim, tão breve  e tão lento, que poderia decorar o teu gosto e soletrar todas as palavras que teu olhos me dizem.

Talvez, sim. Seja você...
No tempo errado. Na medida certa. No lugar inadequado. Na dose esperada. No momento incerto.

E por aqui, o desejo te ter por perto até que os ventos soprem ao nosso favor e mude a direção.

Era a última vez. A última que eu suportaria semente.
Em todas as outras... raiz.

Me despeço, muda.
E ainda comigo, tuas verdades que só me fazem desejar outras (muitas – milhões) de últimas vezes.
Débora Andrade

O Câncer


O Câncer

Foi uma valsa, para quem não se arriscava em passos de samba ou tango.
Bailou e rodopiou pelo salão como quem não se cansava de inventar novos passos. E como dançou!
Mas o câncer é traiçoeiro. Te deixa respirar aliviado por uns instantes. Te deixa renovar a fé e até se vestir de sonhos. Então, vem no seu próximo golpe e, em todas as vezes, fatal.
Deixou que renascessem os cabelos, a cor na face e as esperanças.
E toda a família bailou junto. Em compasso com o presente e o futuro, nos brindando de expectativas cegas e fartas, dançou mais uma vez. Mais duas ou três...
E o corpo emagrece. Os ossos enfraquecem. A fé, de farta e gorda, pesa os ombros, as pernas, e incham as mãos.
Os sonhos se esvaecem... a dança, nem samba ou tango, perde o passo, o compasso... E eis que ele, o câncer, golpeia mais uma vez.
Fígado. Estômago. Esôfago. Órgãos.
E destas mãos grandes do céu, de onde veio a sombra nos momentos de cansaço ofegante, vem também o a chuva que lava nossos pecados e nos permite o perdão. Perdão por não nos manter de pé. Por duvidar e questionar os motivos da dor. Por não aceitar a marcha fúnebre no lugar do samba, do tchá-tchá, do tango.
E a maldita doença que te leva uma vez por dia e um dia por vez. Se alimenta do teu sangue, do teus órgãos, da tua fé... ainda sem explicação, vive a semear a dor da perda nos corações até dos mais fiéis.
Findo aqui sem grandes explicações. Porque não há. Porque a revolta ainda não me deu fôlego para respirar o alívio do perdão.
E dos passos de valsa, não restou nem o som.
Débora Andrade

O Cara


O Cara?

Eu sempre achei que o cara da minha vida fosse chegar com uma rosa na mão e, na outra, um livro de poemas autorais. Sempre pensei que ele, com todo charme e elegância, me convidaria para tomar um vinho enquanto declamava poemas de Neruda.

Ele não chegou num cavalo branco. E nem tinha arco e flechas.
Não me trouxe anel de brilhantes e nem viu a minha carruagem virando abóbora.

Mas ele tem meu sapatinho. E guardou como um brinde vindo dos céus.
Ele chegou assim, quase do nada. No lugar do livro, me trouxe palavras tão doces e sinceras, que me fez ter vontade de acreditar outra vez.
Contra o álcool, o vinho deu espaço à longas conversas e, com muito charme e elegância (sim!), nada peculiar a sua estatura de lutador de vale tudo, me ofereceu uma barra de cereal depois de um beijo de tirar o fôlego.

Meu Deus. E eu fiz tranças de Rapunzel e ele nem precisou de cordas para escalar minha muralha. Entrou no castelo pela porta da frente. E com toda a graciosidade do cara simples que não nega, raptou todos os meus ares de santa. Do profano ao sagrado, me tomou nos braços e eu coube ali com toda a minha falta de tudo. E numa completude quase insana, me libertei da clausura de conto de fadas. Fiz do castelo uma tapera só nossa. E ali tem nosso cheiro e até o nosso som regado ao sabor de prazer, felicidade e qualquer outra coisa que nossas cabeças sonharem.

E ele chegou. Suado, com trajes de luta livre e nas mãos, um pouco de mim. O que de mim havia ficado preso nos sonhos do castelo.

E toda surpresa se faz. Nem sapo, nem príncipe: - Homem. E se é ele ou não o tal "cara", nem questiono.
Basta saber o quanto me faz bem. E faz, MUITO bem...
Débora Andrade

Raiz


RAIZ

Por favor, tenha a calma das águas de um rio manso. Que, de semente em semente, vou brotando minhas / tuas flores.

E não me traga mentiras, dizendo que eu poderia nascer rosa azul em um deserto qualquer, como já ouvi um dia.
Sei que no teu solo já nasceram outras tão belas e graciosas que lhe foram importantes. Então deixe que eu nasça por aí com a mesma delicadeza. Mas cuide, para que eu renasça todas as vezes que meu caule não suportar a falta do teu ar.

Tive um passado de tempestade que devastou um campo inteiro de gérberas amarelas. Menti para mim, quase acreditando, que elas eram girassóis. Assumi a fragilidade das minhas flores sem espinhos e chorei em versos a falta das rimas.

Que decepção toda aquela verdade amarela que não seguia o sol. Morreu seca toda minha história de amor. E durante bom tempo, abandonei meu solo. Me esqueci de florescer.

Cuida e rega do meu solo até brotar nossa cor. Bem assim, nesta tua doce persistência. Não desista das minhas flores. Eu quero florescer para ti em todos os teus jardins e todos os dias.

Eu posso aceitar a dor de ter vivido em solo infértil quando sinto que foi preciso para que eu matasse minha sede em tuas águas.

Renovado o chão, brota letras do teu nome junto às minhas pétalas, anunciando, talvez, raiz.

Ainda não me pergunte como será. Deixe que o quase entone toda a perfeição que ainda não existe. E cuide para que nasçam flores com raízes.
O que tem raiz, não vai embora com tempestades. Parece que morre. Parece que acaba.
Mas... Renasce.
Débora Andrade

O Medo


O Medo

Gritava aos quatro cantos, de leste a oeste, a ausência do medo (a não ser por lagartixas que, sinceramente, vem diminuindo significativamente).
Mas nunca tive medo de dor. Nem das lembranças. Das histórias. E por mais feridas abertas (hoje, cicatrizes) que eu tenha vivido... Nenhuma delas me impediu de mergulhar de cabeça em qualquer coisa, em qualquer situação. Intensa até o último fio de cabelo.
Eu gosto de altura. Então... Se tem que voar, mesmo que sem asas... Eu voo, sem medo do tombo. Que bobagem!
Gosto dos sonhos, das realizações, das danças, dos sons, do mundo, das léguas, das distâncias e aproximações. Gosto das histórias, das lembranças, das crianças... E vivo cada pedacinho de tudo, sem nenhum receio do durante, do antes ou do depois. Nunca tive medo da vida, muito menos da morte. Sou cria de sonhos, sou filha da sorte. Mas sou, mais que tudo, filha da mãe... filha do pai... E, Meu Deus!!! Que medo assumido eu tive hoje!
Somos escravos do tempo. E, em um dado momento, o “senhozinho” vem nos mostrar quem manda em quem, mesmo assinando carta de alforria.
Tive sonhos destruídos, devastados. O amor, que tanto escrevo e penso me pregou golpes fatais e eu, parecia fazer questão de cair em todos eles. E então, me pego na análise e percebo que não há amor maior que este materno, paterno, fraterno, eterno... E neste amor eu não precisei construir nada. O sonho cresceu comigo, naturalmente, a cada passo, a cada palavra dita, vivida. A cada colo, a cada bronca, a cada olhar de orgulho ou decepção. E, Meu Deus... Como é grande, forte, verdadeiro e como me preenche!
A morte se fez presente hoje em minha vida, como se faz presente na vida de alguém todos os dias. Eu sofri. Chorei a minha dor, a dor dos filhos, dos irmãos, dos netos. E percebi que o tempo passa e que, o que nunca deveria acontecer, acontecerá um dia. E eu ainda não consigo aceitar, imaginar, pensar que ficarei sem eles um dia.
Assumido o medo. – Mãe! Pai! Sejam eternos. Porque eu não suportaria nunca viver sem vocês. Porque se há algo de bonito em mim... só existe porque vocês existem aqui.  E eu, tão despida de qualquer medo, reluto qualquer idéia de ficar por aqui sem vocês. E eu, egoísta como não gosto de ser e contrária às regras como sempre sou, peço: - Me deixem, por favor, partir antes.
Débora Andrade

Agradeço


Agradeço

Aqui para agradecer. Não sei bem à quem e nem à quê. Mas, agradecer.

Talvez pela possibilidade em desabar de mim todas as dores no papel. E de me refazer em cada parágrafo.

De contar minhas histórias e renascer tantas vezes no compasso incerto das letras miúdas e estrondosas.

Agradecer por poder compartilhar o barulho. Agradecer à quem lê, à quem sente, à quem compartilha, à quem inspira...

E, de ponto a ponto, me rego como planta nascendo e renascendo, cada vez mais forte, menos sensata e muito menos santa.
O dom da escrita me doa uma humanidade tamanha e me permite, pelo menos por aqui, ser o que desejo sem mais ou menos horas.

Agradecer... Não sei bem à quem e nem sei bem à quê. Mas agradecer por mim, por você.

Por toda a loucura contida no papel.
Por toda história enterrada entre os pontos.
Por todo parto e partida em palavras.
Pela vida.
Pela arte.
Por toda dor rasgada em versos.
Por todo amor declarado inverso.

Pelos sonhos,
Pelos encontros...
Reencontro,
Desencontros...

Por mim...
Por você.

Agradeço.
Débora Andrade

Pelo Bem Que Me Faz


Pelo Bem Que Me Faz

Ando sorrindo de canto a canto em todos os cantos e por qualquer canto.
E se ontem eu não sabia a quem agradecer, hoje tenho certeza que posso agradecer a você.
Desfiz meus armários abarrotados de lembranças e todo espaço ali, agora, é teu. E, embora eu saiba que haverá ainda um bom tempo até lotar das nossas peças, sei que todas nos vestirão com gosto de novo e, assim, sorrindo... vou esquecendo o gosto amargo do adeus.

“Doce”, “vida”, “meu”, “amor”.
E minha boca volta a falar.
E sai com gosto de festa.
Toda festa que faço para você, com você, por você... por nós.
E volto a falar "nós", desenhando ao nosso redor, laços.
Revive em mim a vontade de amar outra vez.
Sem limites, sem dose, completa e completamente entregue.
E vivo todo este bem que você me faz sem nenhum medo do que venha ser o amanhã.
Mesmo suspeitando que teremos muitos “amanhãs” juntos.
Hoje, em palavras bem simples e costumeiras, cometo o clichê quase ridículo de te agradecer.
- Pelo bem que me faz. Pela paz que me traz. Pelo quanto me cuida. E, principalmente, por ter encontrando o atalho que me levava até você.

E assim, vou conseguindo me reencontrar.
Débora Andrade

Declaração


Declaração

Talvez você ainda não tenha percebido a importância da sua chegada à minha vida. Ainda não tenha sentido a importância que dou ao fato de te sentir em mim.

Tudo era vazio. E nos cantos do meu peito, ecoavam apenas as notas de dor e saudade. Saudade dele, saudade de mim. Saudade...

Já não esperava muito dos amores. Já que a vida se encarregou de me trazer tantos presentes e eu, mais parecia uma menina mal educada, evitando os embrulhos e laços.

Então chega você, tão avesso aos meus planos, em um momento de tantas decisões tomadas, e me toma...

Como foi bom ser tomada por ti. Como eu adoro seu abraço, seu beijo, seu gosto, sua pele, seu calor, suas palavras, seu silêncio, seu olhar... Como eu gosto de tudo em você.

E naquela noite (aquela que você me surpreende ao lembrar de cada detalhe), senti o frio na barriga que eu desejava. Anunciava sua chegada. E não só na minha vida como, também, em mim.

Voou de mim qualquer angústia. E toda sua entrega despretensiosa acordou em mim o que eu já acreditava estar morto.

Hoje eu durmo e acordo com a imagem dos teus olhos a me olhar e sua voz dizendo que “meus olhos brilham”.  E você mal sabe que este brilho foi resgatado por agora, depois da tua chegada.

Sim. É quase tudo ao avesso do que esperei. Mas foi você o responsável por adentrar minhas portas. E embora tenha toda força do mundo em suas mãos, é com carinho e delicadeza que acorda minha coragem, minha vontade de sonhar e de te amar muito e sempre.

Esperamos pelas tempestades, baby. E toda esta tua disposição em viver ao meu lado e esta tua fé de que "pode me fazer feliz", me enche de vontade de te levar até o arco-íris. E é lá que vamos rever os nossos passos e, assim, teremos a certeza de que nada foi em vão.
Débora Andrade

Neologismo


Neologismo

 -Você já pensou no amor que sentiu por todas as outras pessoas? No amor que viveu? Àquelas que você disse “te amo”. Pensou no que sentiu por elas? No que viveu com elas?
Eu pensei! E nem foi tão difícil ou demorado.  De mim, até hoje, só uma pessoa ouviu .
E, revendo tudo... Sim, foi bonito. Eu me doei. Eu queria mesmo era fazer muito feliz. Mas, talvez eu quisesse mesmo era ser feliz com esta felicidade que eu proporcionava. E era. Talvez, sim, fosse amor. Mas eu pensei que amor era para sempre. Que não morreria ou enfraqueceria com o tempo, convivência ou situações difíceis. E  este, enfraqueceu.  E hoje morre um pouco dele todos os dias. Certamente, não sobrará muita coisa além das lembranças e do respeito.
Então, baby... Pensando nisso, decidi não te amar. Não quero viver o amor com você, se o amor for o que eu já vivi. Quero viver com você algo bem maior, mais sublime,  mais generoso, compreensivo e bem mais resistente...
- Então, o que você quer sentir por mim? O que quer viver?
- Ainda não sei. Mas, talvez, eu invente uma nova palavra.  E você saberá, exatamente, o quanto tem mais de mim que qualquer outro já teve.
Débora Andrade

Despedida


Despedida

Eu esperei, esperei e esperei. Esperei tanto que imaginei que eu não merecia mais. Ou que não existisse, mesmo. Que não passasse de invenção. Destas tantas que minha cabeça fabrica dia e noite neste meu mundo cor de rosa que os amigos conhecem bem.

Quando eu já não esperava mais, chega você. E muda o gosto amargo daquele vazio, preenchendo todos os espaços com ternura, com doçura, proteção e algo a mais, que vou chamar de amor, enquanto não tenho uma nova palavra para esta "troca"... Este sentimento que vem brotando como um girassol... Desabrochando suas pétalas amarelas, cor de alegria, em busca da luz... em busca do Sol... E encontrando no solo todas as raízes que são nossas.

E você mudou. Mudou o sorriso no meu rosto. Mudou meu pensamento antes de dormir ou acordar. Mudou meu suspirar. Mudou o brilho dos meus olhos. Mudou minha maneira de pensar sobre laços, pingos e nós.

E eu quero tanto... Quero-te tanto... Importo-me tanto... Tanto...
E um tanto de saudade já enche este meu peito. Saudade destes nossos dias sem horas. Das nossas noites tão iluminadas pelo brilho do nosso olhar que quase ofuscava a tão platinada Lua. Saudade das nossas mãos juntas. Do nosso silêncio. Da nossa respiração ofegante. Saudade de nós... Saudade, doce...

E o que farei? Se agora meus sonhos se dividem, mais uma vez.
Talvez, me revoltar com este destino que se encarrega destas  encruzilhadas das minhas esquinas, pregando peças de decisões? Ou, deixar que o girassol durma suas pétalas amarelas sem muita esperança de que o Sol renasça?  Mas, como? Se já não mais imagino meus dias sem teus carinhos. Tuas poucas palavras tão sábias e teu abraço... Este abraço que me fez perder ali dentro, bem quietinha, todo meu medo de entrega... e ali mesmo renasceu toda minha força de viver amor.

Não sei me despedir de você. Não consigo.

Não vou saber e nem quero te dar um beijo, um abraço ou uma flor de despedida.

Retiro-me daqui, com medo de me retirar da tua vida. E se você quiser, deixo parte do meu coração em tuas mãos. Você saberá cuidar enquanto respiramos esta vírgula. E, sem promessas, apenas confesso... Sei todo caminho de volta. E, se for preciso, ensino o caminho até a mim.

Mas, com você, me recuso a ter um ponto final.
Débora Andrade

Indecisão


Indecisão

O dia acordou indeciso.
A chuva cai mansa, sem pressa, e aumenta a angústia entre o sim e o não.

Entre a necessidade e vontade, você dança em passos e compassos, me dando a mão e sorrindo para mim.
Sem respostas, neste breve rascunhar, viajo sem analisar propostas e entrego tudo nas mãos de quem mais sabe de mim. Ele nunca me deixou na mão. E sei que Ele será, mais uma vez, sensato.

O que já existe aqui neste coração, não vai morrer nem com milhões de quilômetros de distância. E eu aprendi a esperar. Com pouca calma. Mas, aprendi.

Você me lembrou como é viver com confiança.

O dia vai dormir indeciso.
E amanhã, talvez, o dia nasça com Sol. Sem chuva.

E você continuará a viver em mim. Dançando entre a necessidade e vontade. E de mãos dadas às minhas.

Amanhã... é amanhã.
Débora Andrade

Café


Café

Saia e, por favor, deixe a luz apagada e não feche a porta. Preciso sentir o cheiro do café quando estiver pronto.  Umas três xícaras, bem quentes e amargas para aquecer o frio e amargar este brilho opaco e sem gosto.

Em mim, todas as portas e janelas, degraus, esquinas... Bordadas de sol e flor, com um pouco do teu nome.

A vontade de estar em ti. E você já aqui, tão presente.

E em ti. Todo mistério que me engasga. Que exaspera. Quase me espanta.

Café, por favor. Mais café.
Débora Andrade

Sem Explicações


Sem Explicações

Como eu gostaria de menos quilômetros de distância entre nós.
Porque eu queria muito que você entendesse todos os meus motivos. E faria questão de explicar, por mil vezes, todas as sementes que, hoje, são raízes. Você entenderia porque tenho estas flores depois que te encontrei.
Eu te escolhi. Mas antes da minha escolha, meu coração já havia admitido toda a alegria que você me fez sentir.
Se haveriam complicações? Um monte. Todas nítidas e claras para nós dois. E falamos, discutimos, ponderamos e escolhemos enfrentar a tudo e todos. Hoje, nenhuma destas complicações existem mais para mim. Só porque eu decidi que elas não seriam mais complicações. Qualquer coisa que ameace abalar nossos laços, eu corto. Porque sei o peso que teu abraço tem quando sufoca todas as minhas aflições.
Não suporto esta tua dor que me corta. Como um alquimista, invento mil remédios, mas você se recusa. Talvez, se eu estivesse mais perto, um abraço, um olhar ou só minha presença, te fizessem notar o quanto de ti há em mim. E no quanto que meus planos de felicidade têm teu nome estampado por todos os cantos.
Segure a minha mão. Feche os olhos. Deite no meu colo. Deixe nele todas as mágoas, decepções, aflições e tristezas. Foi para isto que eu cheguei na sua vida. Para que, juntos, transformássemos o azul escuro da noite em azul celeste da manhã. Para transformarmos o ácido em doce.
Recuse, amor! Recuse o que à nós não veste bem. Não permita que a dor dure mais que o necessário. E nunca se esqueça de que você é quem eu escolhi por admirar, por me largar bem nos seus braços, por me sentir segura e por gostar de segurar sua mão quando ando pelas ruas.
Há mais aqui do que você possa pensar.
Enxugue as lágrimas e deixe reinar aquela nossa alegria de fazer parte um do outro.
Permita-se sentir, pelo menos, um pouco de tudo que você representa para mim. E estarei certa de que a dor que me corta, vai passar.  Porque saberei que um sorriso, mesmo que amarelo, vai nascer no teu rosto.
“Tudo é relativo quando te fazer feliz me faz feliz...”
Débora Andrade

A Tal Vaidade


A Tal Vaidade

Não é a primeira vez que escrevo sobre ela. E, na verdade, esta bendita é bem presente nos meus escritos, até nas minhas letras mais “humildes”.
Ah... Mas como ela tem sido incômoda. E como eu tenho me culpado por não conseguir acabar com ela de uma vez.  Mas, a verdade é que, talvez não seja tão pesado assim. Será?
Acho que este pecado capital é bem mais acentuado nas mulheres. Afinal, quem de nós nunca pensou em ser a pessoa mais importante da vida de alguém? Quem de nós nunca se achou no direito de ser a primeira, a única? Só por se achar no direito?

E o bendito orgulho? Quem de nós nunca guardou palavras simples e doces só por orgulho?

Sim. Claro. É muito bom se sentir amada, desejada, querida e importante. E é bom, sim, saber que todos sabem disso.
 Pena que é pecado. E capital.

Pois é... Talvez eu não seja tão vaidosa, assim. Talvez, eu esteja no mesmo nível de todas as outras mulheres.  Ou, talvez, este seja meu maior gesto de humildade: assumir a tal vaidade.

E se há remédio contra, alguém me passe. Não tem funcionado o "não querer", nem mesmo rezar.
Débora Andrade

Corra Atrás das Borboletas


Corra Atrás das Borboletas

Às vezes a felicidade parece bem distante. E eu nunca gostei muito da história de esperar pelas borboletas. Sempre duvidei que algo chegasse até nós sem nenhum esforço ou sacrifício. Talvez seja por isso que eu tenha desenvolvido esta estranha maneira de viver.

Eu dou meus gritos, meus pulos, às vezes só sussurro... Mas eu corro, não admito cansaço e nem me dou a direito de ser triste por mais de 24 horas. Me viro. Dou meu jeito. Mas eu gosto mesmo é de ser feliz.
Faço muita besteira tentando acertar. E, às vezes, eu nem quero acertar... Só quero deixar ali aquela dor, aquela angústia que me sufoca... Aquela dor que me diz,  mentindo, que eu não posso... Ou que não sou capaz...

Eu gosto da ação. Do movimento. Da atitude. Não espero as borboletas posarem em meu jardim, não. A paciência é uma virtude que nunca tive. Eu planto as flores, as rego, as cuido, tentando deixá-las muito atraentes para as borboletas. Mas, se estas borboletas não vêem ahhhh... Eu vou atrás delas.

E o bom é perceber que é no caminho em busca delas que vive a felicidade.

Só sabe e conhece o gosto doce de vitória, quem um dia, já experimentou o gosto amargo da derrota. E só conhece vitória ou derrota, quem um dia lutou.
Débora Andrade

Sem Poesias Por Hoje


Me peguei lendo um blog de um amigo de uma amiga minha. E fui gostando tanto que me deu vontade de escrever como ele. Assim, de uma forma livre e sem muitas preocupações. Como quem escreve um diário aberto e sem pensar nas consequências que aquelas palavras podem te levar.
E hoje eu estou com tanto peso dentro deste meu coração safado, que não tem como sair um verso ou uma rima. Sem poesias, por hoje.
O que dá para sair é um texto corrido, pesado e sem preocupações com que vão pensar sobre mim. Hoje, não quero falar da tristeza de uma forma que te arranque um suspiro. Ou falar do amor para te arrancar uma lágrima.
Hoje eu só quero falar que estou furiosa comigo mesma. Que eu detesto viver com tantas expectativas. Que estou frustrada, mais uma vez. E que eu queria, sim, ser mais importante do que sou para algumas pessoas.
Perdi a conta de quantos poemas e crônicas eu já escrevi sobre o amor. Eu tenho uma mania de achar que sei tudo. Mas, no fundo, eu sei o quanto eu sei... e que é quase nada.
Tenho lutado contra os traumas e medos. E acho que lutei tanto contra que a vida acabou me trazendo um tamanho gg.  E agora? Agora não dá mais. Vou ter que fazer alguma coisa. Porque eu sempre faço alguma coisa. Porque espero que façam... Mas, se não fazem.. sei sofrer e fazer por mim e por quem deveria ter feito.
Mas a verdade é que hoje eu cansei. Cansei até das palavras doces e lindas. Estou querendo ser menos. Menos ansiosa, menos doce, menos...  Me doar menos... Desejar menos... Porque eu mereço mais. E tudo bem que você acha que não. Eu acho que mereço. E a isto, basta.
Vou dar um grito de chega e tirar a máscara de boa menina. As pessoas se aproveitam muito desta minha postura de boa gente.
Obrigada pela dose de revolta, moço do blog.  Em tudo nesta vida, é preciso de uma dose de verdade cruel. E a minha verdade cruel de hoje é que não dá mais para fazer da vida poesia.
Débora Andrade

A Felicidade


Quem disse que ser feliz é difícil?
Isto é coisa que a gente inventou só para tentar supervalorizar o ato de ser feliz. Como se não fosse possível ser feliz atoa.
Talvez a gente tenha inventado isto só para poder se gabar quando conseguir perceber felicidade. Tipo: - Viu? Eu sou feliz? Passei por um bocado de coisas tristes, mas... eu sou feliz. Mérito meu, em?
Mas o fato é que a felicidade existe em tão pequenos atos desimportantes e desinteressados, que não damos a estes momentos o devido valor. Parece que estamos sempre nas trilhas de Abraão em busca da Terra Prometida. Para quem não lê a bíblia, é como se estivéssemos sempre nas tempestades só para esperar o arco-íris.
A felicidade, assim como o amor, é simples.
Então, para quê pesar tanto? A felicidade não está nas novelas, filmes e revistas de celebridades. Todos aqueles sorrisos bem feitos e brancos são bem pagos e coreografados.
A felicidade está na esquina dos churrasquinhos de gato, na roda de amigos, na roda de samba,  está em casa e no abraço gostoso de quem te quer bem. Está no trabalho, na família, na história que passou, que virá e que acontece.
É simples. É leve. É possível. E eu gosto.
Débora Andrade

As Diferenças


Ninguém é igual a ninguém. Fato e ponto.  E me pergunto: - As diferenças entre as pessoas impedem a felicidade?

Meus pais completam 30 anos casados no mês de dezembro. Quem conhece este casal, sabe bem o significado das palavras respeito, cumplicidade, lealdade e união. Mas, eles também são exemplos de pessoas diferentes. Para começar, minha mãe é de sagitário e meu pai de peixes.
Eles têm uma relação que exala amor, carinho, dedicação.
Passaram por muitas dificuldades na vida. Casaram-se bem novos e já no primeiro ano de casados, minha irmã mais velha teve um problema de saúde e fora desenganada pelos médicos. Eles viveram o medo de ver uma filha de 6 meses morrer. Eram trabalhadores e com pouquíssimo dinheiro. Como se não bastasse, minha mãe engravida de mim no mesmo período. Mas o que salvou a filha foi a fé e o amor. Pois é... e eles se mantiveram firmes e estreitaram todos os laços.

Quem conhece, também sabe que minha mãe e meu pai são completamente diferentes um do outro. Minha mãe é do tipo de pessoa que tudo está bem e se não está, ela vai fazer ficar. Teimosa, inquieta, de uma alegria doida. Tem sempre um sorrisão no rosto. Quer salvar os sobrinhos, as filhas, as irmãs, as tias, os cachorros de rua, o mundo.  Ela é um tanto ousada, destemida e, por conta disso, acaba cometendo mais erros e acertos que meu pai. Meu pai, por sua vez, é um cara calmo, tranquilo, de bom coração mas é na dele. Se precisar de ajuda ele estará ali. Mas não é como minha mãe que sai "catando" todos os problemas do mundo para resolver. Minha mãe sonha muito. E meu pai, precisa dos sonhos da minha mãe para sonhar junto. POr sua vez, minha mãe precisa da dose de racionalidade do meu pai para colocar os pés no chão. Os dois se precisam e se equilibram.

Meu pai é um cara que não existe igual. Íntegro, de caráter inquestionável, trabalhador mas, não teria conquistado o que tem hoje se não fosse pela persistente vontade da minha mãe querer sempre mais da vida. Já disse que ela é teimosa.

 Acho fantástico mesmo é que, estas diferenças entre eles se fundem de uma forma tão incrível que hoje, vejo um tanto do meu pai na minha mãe e um tanto da minha mãe no meu pai.

Então, respondo à pergunta acima sem titubear. As diferenças são positivas entre as pessoas. Principalmente quando elas existem para somar um ao outro.
Certamente, meus pais continuarão diferentes. Com gostos completamente desiguais. Minha mãe adora um monte de gente em casa. Meu pai? Suporta só para ver minha mãe feliz. Meu pai adora ficar um domingo todo na cama. Minha mãe? Suporta para ver meu pai feliz. Minha mãe gosta de festa e até exibe uns passinhos de dança. Meu pai? Gosta de silêncio e nem sonha em arriscar um passinho. E vez ou outra, vejo os dois fazendo o que gostam e o que não gostam por respeito e amor um ao outro.

E eu vejo que o segredo entre os dois é este querer bem incondicional um do outro. E que as diferenças, o tornam cúmplices e os aproximam. E isto só acontece, porque se amam.

Ninguém é igual a ninguém. E não precisa ser se existe este bem querer.

"E pensando bem...
Somos mais semelhanças que diferenças.
Pois toda minha emoção é amor
E toda a sua razão, também."

Débora Andrade

Arquivo


Gosto de publicar textos que façam algum sentido para as pessoas. Por isso tenho aos montes guardados por aqui. E ontem me peguei lendo quase todos. E que pena eu tive de mim. Aí saí para comprar chocolate, na tentativa vã de adoçar a minha vida sem graça.
É! Nem tão sem graça assim. Viver no Rio de Janeiro deixa a vida mais interessante. Mas, se o que quero não está por aqui, fica sem graça.  O problema sempre está neste ansioso querer.
Lendo os textos, me deparei com muitas de mim por ali. O que havia de comum entre todas? A aflição, a ânsia em conquistar o mundo, em dar o mundo, em fabricar e pintar sorrisos. A capacidade de se anular, se prever, de se debater, de se engolir, de se aturar, de se reinventar e maquiar a dor. Uma baita de uma atriz.
Não tenho vivido dias fáceis. E isto, só se vê nos arquivos guardados. Por aqui, há de se manter a pose, o passo, o preço que se paga por ser além do que se pode, do que se dá conta... Ou melhor, se mostra além da conta.
 Dói. Mas antes que você saiba, já dei um jeito de mudar as linhas, os rumos e os caquinhos já estão todos juntos.
Não existem verdades absolutas. Ninguém sabe o que existe no coração do outro. E minha bola de cristal? Já aposentei tem tempo.
De “quases” e um monte de incertezas? Bastam as minhas.
Que este tenha feito algum sentido. Porque era mais um para o arquivo.
Débora Andrade

Tudo Real


Era o fim da boca pra fora. Não seria possível um fim assim, diante de tudo que temos guardados um do outro. Passamos a ser mais “nós” do que “eu e ele”.
Era uma tempestade forte. Mais uma. Diante de um monte que passou e outras que virão. Juntos ou não.  A força do que nos repele não pode ser maior que esta que nos une de uma forma tão pura... A paz que você procura e encontra no meu colo. A segurança que eu procuro e encontro no teu abraço.
Nossos olhos se olham além e sabemos o quanto ainda existe de nós ali, mesmo na lágrima do desespero. Na ânsia de corrigir os erros, de acertar as arestas cheias de defeitos.
A foto no mesmo lugar. De um lado, a oração. De outro, aquele caderninho com palavras tuas, doces, escritas com todo teu amor mais puro e nobre para mim. Como questionar se é real? – Claro que é. E é mais forte que eu imaginava.
Sempre gostei de amores reais. Fora de moda. Sem tendências. Dos amores de novelas e filmes, eu só queria os sorrisos da mocinha e do mocinho. Tantos dramas, tantas armações e tanta gente ruim, pensava que era impossível sair das telas. E hoje me vejo neste enredo cheio de vilões e a única coisa que me salva e me mantém firme é a certeza do que existe entre nós.
Vivemos. E tenho a certeza que não fui só “o engano mais feliz da sua vida”.  Assim como você sabe o que é para mim.  Além das diferenças, dos mundos distintos... Construímos o nosso.
Viveremos. Perto ou longe, juntos ou separados... Mas, levo a certeza de que tudo foi real. Foi íntegro. Foi verdadeiro. Foi puro. Destes amores que muita gente não conhece. Não sabe reconhecer.
Débora Andrade

Repeteco


Parece pesado. Os ombros doem e o aperto no peito não é só uma expressão. É físico. Dói.  A gente perde o ar, a fome, o brilho dos olhos, a disposição. E só se dá conta que passa, quando já passou. Porque enquanto dói, parece que nunca vai parar de doer.
Você se olha no espelho e se pergunta pelos motivos, pela falta deles. Questiona a ação do outro, a reação do mundo e aquela vontade de ação nenhuma que te invade naquela hora. E porque dói tudo outra vez?
Você esboça um sorriso amarelo ali ou acolá e tenta colocar cor naquele dia cinza. Tenta ver beleza, suavidade e gentileza no outro.
Perde o sono. Pensa, repensa, renega os pensamentos. Chora tudo outra vez.  E o tempo que passava tão rápido enquanto estavam juntos, agora demora.
Aí você reaprende a rezar. E nas orações, pede para que reaprenda a sonhar. E nos sonhos, tudo igual outra vez. Você vai se apaixonar, vai se encantar, vai fazer planos, vai se entregar, vai viver intensamente e vai acreditar que tudo vai dar certo.
Aos poucos, a dor vai embora. E você vai acreditar que está pronta outra vez. E mesmo que os tics e tacs te torturem como punhais, você vai tentar tudo, sem um pingo de medo de doer de novo. Porque nunca foi gente de desistir de nada. Muito menos de ser feliz.
Débora Andrade

Foi...


O fim lento machuca mais. Só serve para prolongar a sensação da dor. Parece que te corta ao meio para doer uma parte por vez. Como se programasse a morte a prestação: - duas vezes com juros.
Você passa anos agonizando, segurando para que não chegue ao fim de fato. E talvez nem seja medo da ausência ou solidão. Parece que é por medo da sorte. Porque a gente acaba aprendendo que é preciso um pouco dela para construir novas histórias. Acaba que a gente assume a dificuldade e quase desiste de tentar. Dá preguiça.
É... Talvez a história valesse mais. E por isso o medo imensurável de soltar, de largar e de deixar morrer que já, enfim, nunca viveu. Tudo aquilo que não passou de frutos de contos de fadas e ilusões fabricadas sem medo e sem pressa na mente ingênua de quem nunca desacreditou da vida, da felicidade. De quem acreditava no amor.
A pouca idade fortalece sonhos impossíveis e os tornam palpáveis e simples. Agora? – Uma chatice. A maturidade assola qualquer pouca sombra de linhas e traços de vida perfeita. Os sonhos impossíveis; - pasmem! - São mesmo impossíveis. E a perfeição não existe. E, infelizmente, sabemos bem disso. E aceitamos. Afinal, somos inteligentes.
Não dá mais. Nem mesmo os cacos de amor estão pelo chão. Nos refizemos. Nos transformamos.  Somos outros. E somos muito bons para sermos cacos de qualquer coisa. Até de amor. Nos reconstituímos por inteiro. E em cada um de nós, há uma dose do nosso veneno.
Atrelados a uma mesma história de ontem, vamos seguir e dar rumo a novas histórias. Embora, vez ou outra, o peito venha a doer e chorar de saudade da nossa... “aquela” de amor. E vamos nos perguntar em silêncio: - Será? Teria sido? Ainda dá tempo?
E nunca teremos a resposta. Porque aprendemos com o tempo que o amor se transforma, muda a forma, forma e muda o papel de cada um. E, por mais que saibamos que daria certo pela infinita afinidade, respeito, admiração e afeto, entenderemos que deixamos o tempo passar. E o que poderia ser, não foi. Acabou. E hoje nos contentamos bem com o bom dia ou boa sorte. E aceitamos o fim, já indolor. Porque nos tornamos bem mais inteligentes que antes. Crescer tem destes problemas...
Ao que se foi, eis aqui é um texto sem conclusão. Porque há histórias que acabam, mas nunca se concluem.
Débora Andrade