sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Bob's


Eles se viram. Se olharam. E agora confirmam: estão certos de que já se viram antes.Seus olhares penetram-se. E no compasso acelerado do desejo, ambos notam algo em comum: são anjos controlando seus demônios. Insistem e se perdem pela carne, pelo prazer, pelo descontrole dilacerado da respiração ofegante de quando se aproximam.

Olhos nos olhos. Mais próximos... Se cumprimentam sem palavras. Aproximam-se mais, sentem certo calor. Deste, que parece iniciar de baixo pra cima e de dentro pra fora, fazendo com que os poros se enlouqueçam, abrindo e fechando sem ordem. Sentem um frio na barriga. Desejo.

A mão dela se esbarrou na dele, como quem não queria que esbarrasse. Intencionava mais. Queria tocar além da mão. Claro que ele nota. Ele, mais discreto, corresponde só com o olhar. Só que agora o tom muda. Ele tem fome. Ela tem fome. Os dois têm desejos.Olhos, mãos, pele, corpo, boca, língua, suor... Respiração.

Se desejam. Se imaginam. Se sentem. Ela o seduz. Femininamente traiçoeira, o puxa pelas mãos.
Vai ser ali mesmo. No andar de cima, no banheiro feminino. O tempo é curto, ela se encarrega de tudo. O ordena só com olhares e ele a obedece como quem entende todos os seus sinais.
A voz sussurra quente em seu ouvido... Ela o deseja. Passa a mão pela suas costas, usa suas unhas, o toca com sua boca quente e molhada. Vai até o pescoço que tem cheiro e suor de quem a deseja ainda mais.
Sorrateiramente, caminha com suas mãos até as mãos dele. Estão suadas. Parece um menino com medo. Ela encarrega-se de passar com as mãos dele no seu corpo. Tudo é ardente. Delírios e sussurros de desejo. Pele, boca, poros... é tudo quente. Tudo.

Acelera o ritmo. Boca com boca, as línguas dançando valsa em seus corpos.Pele branca, alva, quase inocente... Misturada a cor morena e quente de quase pecado. Temperatura nas alturas. Aceleram ainda mais o ritmo. Gemidos e sussurros de prazer até que... Batem na porta. Era no banheiro feminino. Envolvida, destemida e completamente entregue... Ela silencia tudo em um beijo, quase tímido.


Estão molhados de prazer. Mordendo os lábios, eles se olham. Batem mais uma vez na porta. Calmamente ela se arruma, se enfeita, enquanto ele, pasmo, assiste a tudo com o coração acelerado. Não batem mais na porta. Ela sai primeiro. Eles já se falavam tanto pelo olhar que ele entendeu também que poderia sair.


Saem. Estão de mãos dadas. Seus corpos aprenderam a se falar antes que suas vozes se proclamassem.
Foi a primeira vez e, com certeza, não seria a última.


(conto para o blog A Arte Não é Minha - www.aartenaoeminha.blogspot.com)
Débora Andrade

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Colorindo O Mundo


Colorindo o mundo

Desejo ao mundo OUSADIA.

A ousadia de procurar se conhecer... Olhar diante de um espelho e ver a pessoa maravilhosa que existe guardada aí... Algumas estão trancadas à sete chaves, outras... com uma fresta escancarada para fugir. Mas todos nós temos esta pessoa "MARAVILHOSA".

Existe um personagem dentro de cada um de nós que é muito mais forte, muito mais benevolente, muito mais corajoso e tão sábio que consegue ponderar elementos pesados como a força com a doçura e a leveza do amor.

Permita se olhar, ao menos um dia... e se orgulhar de algo que só você sabe que fez de bom. Não espere retorno dos outros.. Apenas espere retorno pelo que VOCÊ faz.

Somos nós os principais responsáveis pelas nossas vidas, pela nossa felicidade... Não espere a felicidade vindo de bandeja carregada pelo seu pai, sua mãe, namorado (a), esposo (a), filho (a)... etc e tal...

Portanto, desejo que se olhem e se "vejam". Não sejam perfeitos... Não há muita beleza na perfeição!!! Mas seja o melhor que puderem ser... Melhor para o mundo? Para o seu namorada (O)? Esposa (o) ? Chefe?   - Não... Seja o melhor para vocês mesmos!!! Nossa disputa deve ser com nossos medos, nossas falhas e fraquezas. Procure acordar amanhã, muito melhor do que acordou hoje!!!

Há algo no universo, INEXPLICÁVEL, que conspira com a força dos seus atos, seus pensamentos, sua postura diante do mundo. Acho que tem um espelho gigante no céu que reflete o que fazemos por aqui... No tempo dele, é certo... Mas sempre reflete!

Não busque respostas fora de si. Tudo que precisamos está sempre em nossas mãos, diante do nosso nariz, dentro do nosso coração.

Não é preciso assistir ao filme "segredo" ou ler o livro!
Vislumbrar um mundo melhor só é possível se vislumbramos melhorias em nós...

Vamos colorir a vida...
Os pincéis estão em nossas mãos...

E como nada é tão bom se for tão simples...
Fabrique as tintas!!



 Débora Andrade

Talvez, Maturidade


Talvez, maturidade.

Impressionante como "o passar do tempo" e a análise constante dos fatos te torna uma pessoa quase insuportável de tanta razão. A gente acaba resumindo um monte de "gente" por pura praticidade. Transforma alguns que te cercam em um livro super interessante, daqueles que você tem vontade de devorar em um dia, e repetir isto pelo resto dos seus dias... E outros, naqueles gibis sem graça nenhuma que te dá uma preguiça...

Por muito pouco, você analisa e consegue perceber alguns detalhes que acabam tornando qualquer ser humano muito previsível. Às vezes, isto pode parecer positivo. Quase te transforma em um "vidente". Mas, às vezes, sinto tanta falta das surpresas. E eu gosto tanto de surpresas!
O que "o passar do tempo" ainda não me ensinou foi a prever o meu sentir, que continua a insistir em ser muito, em ser intenso, em ser inexacto e bem mais surpreendentes, quando não necessito que eles sejam. Não são destas surpresas que gosto. Aplico esta irritante análise, involuntariamente, na maioria dos que me rodeiam e consigo falhar o tempo todo comigo. Concluo que, toda a leitura de almas são feitas a partir das minhas lentes que aumentam ou diminuem na medida que me afasto ou me aproximo. E, quase sempre, me aproximo... Mas também me afasto. Me afasto, às vezes, na tentativa de me afastar de mim mesma. E porque eu me aproximo?

E mais uma vez, esta compreensão que, às vezes eu também odeio, responde a pergunta que faço. Não sei se por comodidade ou por evitar um penar que me farta, aprendi a aceitar as questões que não dependem, inteiramente, de mim. E assim consigo seguir sem tantas penas de mim mesma.

Acho que este "passar do tempo" pode ser... maturidade. E, como tudo na vida, tem seu lado bom e seu lado ruim.


Débora Andrade

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Só Para Constar


Só Para Constar

Preocupo-me com sua palidez poética. Nunca foi um entusiasta nato, mas... eu via brilho nos seus olhos quando proferia sonhos de futuro. Talvez, devesse escrever mais... escrever para você mesmo!! Esta prática da escrita e da leitura e mil releituras de si mesmo nos proporciona um conhecimento maior sobre nós mesmos.
Lá pela quinta vez, parece que começamos a nos entender melhor e, apesar de não encontrarmos nesta prática as fórmulas da felicidade, o "se entender" nos favorece a ter uma visão mais leve da vida. Parece que fica mais fácil viver alegria e lidar com os pesos das tristezas.

Agora basta de conselhos. Agora eu quero é falar sobre sentimentos meus. Senti esta vontade e nenhuma preocupação em dizer. Já que agora, me sinto livre e leve, sem amarras ao que vivemos. Suavizei...

Depois de um certo tempo de análises sem analistas, a não ser eu mesma sem diploma de psiquiatra, tenho algumas considerações. Então... há sempre um amor que vai marcar nossas vidas para sempre. Quando te encontrei... eu tinha a absoluta certeza que você seria, não só a pessoa que me marcaria para sempre, mas, a que eu ficaria para sempre desafiando a rotina e os padrões atuais. Encarando e desfazendo todas as certezas que as pessoas construíram sobre relacionamentos e amor... dizendo que o amor não dura... que o amor é balela de livros de contos de fadas!! Eu me alimentei da certeza de que todos viveriam a aplaudir nosso relacionamento e nosso amor...

Eu era uma menina... nos meus olhos brilhavam um brilho igual ao brilho dos teus... sabíamos sonhar...!!!

Ainda acredito em parte desta história toda... Mas, apesar de odiar ter os pés presos ao chão, consigo lidar com meus sonhos com maior racionalidade. Não quero mais expectativas... Não quero mais esperanças... Não quero mais ilusões e promessas... Só quero viver em paz!!!

Acho que o brilho dos nossos olhos...existiu enquanto estávamos juntos!!! Acho que esta magia de brilhar a retina é um pouco de força da união de pessoas que se gostam.

É fato... nunca te disse uma palavra que eu não sentisse, realmente. E, como sempre levei o amor muito á sério... E levarei sempre. Porque o amor merece respeito, sendo ele seu, meu ou de quem for.

Quando me percebo... Sinto falta de um pedaço de mim que ficou nos dias que compartilhamos... Falta do que eu fui enquanto estive ao teu lado. Talvez meus abraços tenham menos calor. Talvez meus olhos guardem menos entusiasmo. Minha boca guarda menos palavras doces. Mas, meu coração, ainda guarda muito amor. Mas é para quem o quer. E assim, quem sabe, nasce uma nova de mim, com abraço, brilho, entusiasmo, beijos e palavras renovadas.
Joguei areia no meu sentimento por você! Tentei deixar de fora só as coisas boas e correspondidas... Não aceito mais viver numa estrada de mão única. E não quero deixar de acreditar no amor como ele sempre foi para mim. E, também, acredito que alguém me tome de surpresa e resgate aquele brilho de quem sabia sonhar.

Vivi nosso amor enquanto eu acreditei nele. Enquanto eu acreditei que você era apenas confuso.. mas que vivia em você amor por mim.

Devagar... vou construindo novos sonhos... E sugiro que faça o mesmo. Mas que construa sonhos em bases mais fortes e que não deixe de fazer só por medo de não dar certo.

Viver já é um risco e dos maiores que podemos ter.

Deixa que de tudo que fomos, nos reste as lembranças... as boas lembranças...
Débora Andrade

A Culpa é De Quem?


A Culpa É De Quem?


E onde estão os culpados, eu pergunto.

- Isto não está certo. Isto está em desacordo com o combinado. Aquilo era para ter sido feito assim. E aquilo ali não era para ter sido feito desta maneira.

E tanta imposição me facilita e muito a me condenar. Sempre tive uma imensa dificuldade em me perdoar. E, apesar de aceitar bem o fato de ser falha, como todo ser humano, sempre detestei viver no erro e muitas vezes, talvez na maioria delas, errei muito na tentativa de acertar. Mas não há desculpas.

E por isso, mais uma vez, eu pergunto: - Onde estã os culpados? Será que estão todos trancafiados em uma salinha escura à espera de perdão? Ou, continuam poraí a propagar os erros, sem censura e sem "des"culpas? Sem nenhuma condenação?
Qual minha sentença? Quanto devo pagar? E este fardo pesado, que tocam notas tristes como as de um piano desafinado, com quem vou dividir? Quem me ajuda a levar?

Há culpa de mais para erros de menos. Em um processo inverso, sem culpar a mim e à ninguém, reflito: que tamanho tem isto para mim? Qual o grau de importância tem o retrocesso de se julgar imperfeita, cheia de falhas e completamente humana?

O que ganhei? O que perdi? E para todos estes questionamentos, tenho respostas na ponta da língua e as guardo ou as solto com afinco.

Saio de mais uma tempestade. E entre tantos erros... meus e dos outros... confirmo: EU ACERTEI EM SER O QUE SOU.
E meu escudo, sem nenhum manto sagrado, sem nenhuma espada intergalática, a simplicidade de se aceitar e admitir meus limites, me protegeu e me venceu, sem grandes esforços.

Não há culpados. É só mais um processo. Apenas mais um passo. Mais um, de tantos que foram dados e dos muitos que ainda darei...

Levo comigo, neste coração sem tamanho, o amor dos que prezo. E não admito que eles também se sintam culpados por ser quem são.

 
Débora Andrade

O Que Todo Mundo Quer


O que todo mundo quer

Tenho observado as pessoas mais do que antes e notei como gostamos de nos enganar. Não sei se por falta de saídas ou por comodidade, simplesmente. Nos enganamos o tempo todo. E são pessoas de todas as idades, de todos os tipos. Em todos os olhos o que vejo é desejo de amor, de amar. Mas da boca saem palavras que distorcem a verdade dos olhos. E por isso as pessoas estão um tanto perdidas. Não sabem administrar seus desejos e entram em um conflito quase desastroso entre querer e poder. - Eu posso, mas não quero ou, eu quero, mas, não posso. E assim vão brigando consigo mesmo, numa batalha sem vencedores.

Têm medo de assumir seus sentimentos, medo de assumir seus desejos mais simples e preferem usar máscaras. Por detrás delas estão a carência, vontade de amar, de ser amado, e também o medo em viver um sentimento que possa causar dor, além da alegria e do contentamento. E por não permitir o sentir, vivem a dor de não viver em plenitude.

Vejo o desejo de se entregar, de olhar nos olhos de alguém com verdades e sentir verdades. Vontade de dar as mãos, de se abraçar e sentir como é mais intenso o calor de dois corpos que se amam. De fazer carinho, de receber carinho... Vontade de ser idiota, bobo, piegas, clichê.

Estão todos à espera de um príncipe ou de uma princesa encantada e vão se iludindo com este tempo que é tão frívolo quando buscamos qualquer felicidade em qualquer abraço, em qualquer beijo. Todo mundo espera pela perfeição, mas ninguém pára para ver que a perfeição está em sentir. Em se entregar a si mesmo. Aos seus sentimentos, pois, se são nossos não temos que questionar a ninguém, senão a nós mesmos. E nós temos as nossas respostas, e é o que basta.

Quando se sente... Ai, quando se sente... Não há beleza maior. Todos os defeitos se relegam à insignificância e tudo que é maior é o amor.

Você se sente mais forte, mais alegre, mais bonito, mais completo, mais gente.

Não temos que nos culpar, culpar aos outros, culpar a vida ou o destino pelas dores que sofremos. Tudo existe e acontece para nos fazer maiores e melhores. Se algumas vezes sofremos, nos desesperamos, nos vimos perdidos, choramos e desacreditamos foi para renovar a nossa fé, a nossa esperança e a nossa força.

Não temos o poder de julgar, condenar e sentenciar a nossa vida. Isto quem cuida é algo ou alguém muito maior. Precisamos viver todos os sentimentos, todos os sonhos doces, até aqueles que, por algum motivo, um dia deixamos de acreditar. Sinto que é viver o que sentimos, o que sonhamos, que faz de nós mais vivos e nos permite um contato maior com o que há de mais puro em nós. Não podemos esperar um príncipe(esa) encantado(a). Esperamos pelo encanto do amor que torna qualquer sapo de brejo em protagonista de conto de fadas.

Coração nenhum pode ter chaves. Ninguém pode ficar trancado e nem nós podemos nos fechar. Amar é muito bom e não devemos nos envergonhar ou ter medo disso. Devemos sentir, somente, pois tudo que vem depois é conseqüência. E a conseqüência de sentimento, no mínimo, é história.
Débora Andrade

"Ismos"


"Ismos"

Temos o mal comum de sonharmos muito. O problema é que, ao sonharmos, envolvemos outras pessoas. Afinal, outro mal comum à nós, humanos, é a carência. Impressionante como sempre desejamos mais alguém para gozar conosco as conquistas e até mesmo para chorar as derrotas. Já viu alguém sonhar em ter uma linda casa, com piscina, salão de jogos, redes preguiçosas, sauna e tudo mais para viver só? No mínimo, alguns cachorrinhos lindos estarão compondo este sonho.
É... Mas o que sonhamos para alguém, não é o que este alguém sonha para si mesmo. Por mais que este alguém tenha demonstrado o desejo de compartilhar com você dos sonhos, dos planos... este alguém não é você. E ele pode mudar de idéia. Não pensou que só porque era real e possível para você que seria para ele, né? Quanta ingenuidade!!!

Fatalmente, comigo foi assim...  Por isso, aconselho: sonhe só para você e por você. Os sonhos de amor, que são os que, obrigatoriamente, envolvemos uma segunda pessoa, é melhor não sonhar.

Quando notamos o controle das nossas vidas em nossas mãos, conseguimos direcionar melhor nossos planos. É certo que perde um pouco da magia, do encanto natural que existe em sonhar. Mas a racionalidade evoca o egoísmo, egocentrismo e indivudualismo. E todos estes "ismos" são indispensáveis para a sobrevivência da dignidade e integridade emocional.

Pensa que estou feliz em concluir isto? - Não. Não estou. Mas, já diz o velho ditado popular " a necessidade faz o homem". E minha necessidade agora é viver em paz. Sem dor, sem frustração, sem desilusão, sem decepção. E qual a saída para isto? Não criar expectativas, nem planos e nem sonhos que envolvam outras pessoas. Ter o controle de mim. E só tenho este controle quando o centro do meu universo passa a ser eu.
Sem essa de sonhar por alguém. Vou sonhar só o que compete à mim. Só no que depende, inteiramente, de mim.
Já escrevi muito sobre o amor. E em determinado momento da minha vida, pensei dominar o conhecimento pleno desse sentimento... Sentimento? Hoje acho que é muito mais um estado de espírito. Mutável, inconstante e frágil.
É só mais um sonho... desses que não são para viver sozinho. E como depende de uma segunda pessoa, desisto de tentar. Estou cansada de mais.
Odeio este balde de água fria em mim mesma. Sempre adorei o brilho dos meus olhos ao sondar a possibilidade de dar certo. E também gostava tanto do meu tom de voz quando, entusiasmada, afirmava que assim seria, como planejamos! Mas as verdades eram só minhas. Os sonhos, criados por ele, eram vividos e consumidos só por mim.
... E meu castelo de sonho se autodestruiu quando sentiu que lá só habitaria minha dor.

Devolva meu controle remoto.  Vou reprogramar minhas estações.
Débora Andrade

Mapa Astral


Mapa Astral

Penso às vezes... e penso sempre... e penso!!! Penso MUITO!
Acho que este muito pensar tem muito a ver com os astros. Fiz meu mapa astral recentemente... E descobri que minha personalidade é moldada conforme a posição da lua, do sol, de marte, de Vênus... etc etc etc!!! E até descobri que meu planeta regente é Vênus... e segundo a astrologia, o planeta de maior sensualidade do astral!!! Só rindo... e rindo muito, tanto quanto penso.
Claro que não acredito nisso!! Mas, da mesma forma que quero saber tudo... da mesma forma que questiono tudo... quis conhecer para saber se é ou não é. E descobri que esta característica de curiosidade é porque tenho a casa 04 em gêmeos!! (risos)
Hoje não parece ser um dia muito bom. Segundo os cálculos astrais, a minha Lua, que é em Caprocórnio, está dando um passeio em Marte, o planeta frio da razão. Segundo a previsão, este trânsito causaria uma certa angústia, uma certa preguiça ocasionada pelo descontentamento. Coincidência ou não... com trânsito ou sem trânsito, não parece ser um bom dia, realmente.

Angústia, talvez... Mas é aquela de sempre. Ocasionada pelo meu ansioso querer!!! Pela meu gigante: o desejo! Pelos meus monstros e pelos meus santos! Esta confusão que nunca se acerta. Não há um dia que não vive neste corpo uma alma sagrada e profana!

Encontro as razões, as causas deste mal estar. E eu posso mudar. Mas, sei lá... às vezes eu gosto... Parece bom... Me aponta uma certa distância entre a perfeição e eu! E isto é indício de muito caminho a percorrer. E, por mais que eu queira chegar, não sei ainda se quero chegar tão logo, tão cedo.

O bom é que, ao analisar meu território... Melhor, meus territórios: exteriores e interiores. Noto que não sou sozinha nesta confusão. Tem mais gente com trânsito astrológico confuso. Então... não sou assim, tão "tão"!!!

Parece que amanhã a Lua vai passear em Mercúrio. E Mercúrio é um astro quente. Responsável pela comunicação e pela interação. De certo, amanhã sentirei menos frio, então.

O bom é que, até na astrologia, tudo passa. Fases... ou.. Trânsitos... E amanhã, eu renasço!!!
Débora Andrade

O Retorno


O Retorno

Deveria ter escrito isto há uns três meses. Afinal de contas, retornei à minha cidade natal no dia 26 de janeiro de 2009 e não hoje, dia 24 de abril de 2009. Mas, tudo que escrevo, é puro sentimento e, quem sabe hoje, eu já consigo sentir meu retorno completo. E o interessante é que, além do retorno houve também um reencontro. O reenocontro dos meus mundos e daquela que estava adormecida dentro de mim. Recuperei um pouco da doçura, da ingenuidade dosada, da "caipirice" e inocência necessárias e da alegria de viver com simplicidade e calma. E isto tudo tem me feito bastante feliz.

Claro que ainda há muito da "mineiroca" construída nos sambas e chorinhos da Lapa, da quase tijucana que não negava um chopp no Buxixo, da louca e "sem noção" que enfrentou ladrões, da destemida que saía da Mangueira ao amanhecer com os pés latejando na sandália de salto e muito feliz por quase não sentir as pernas de tanto sambar. Ainda há muito do Rio em mim. Há, ainda mais, muito das pessoas. E destas, sei que jamais irei me desfazer e desconstruir porque desejo que elas continuem em mim. É um afeto, carinho, amor que só me faz bem, mesmo que a saudade se faça presente sempre.

Hoje vivo uma sensação boa de sentir. Acho que aumentei os meus espaços. E, mesmo tendo muita gente espalhada pelos quartos e cantos da casa do meu coração, ainda há uma sala espaçosa e confortável para receber mais gente, mais coisas, mais sentimentos.

Acho que esta que estava adormecida sempre teve uma noção melhor de espaço e sempre foi mais organizada, apesar de também se jogar no tapete da sala de vez em quando... sozinha ou acompanhada. E aliei o conhecimento adquirido com as experiências vividas até aqui, com as características que sentia saudade desta que já tinha dado por morta em mim.

Retornei! E, por mais estranho que pareça, tudo é muito diferente do que havia sido. Coisas novas e coisas velhas numa deliciosa mistura. Assim, como goibada com queijo ou, como pão de queijo com café! Mas ainda há coisas para reencontrar...

É, amor!!! Talvez eu precise de mais uns três meses... E nenhuma de mim ainda aprendeu a esperar!!!




Débora Andrade

Me Livrando de Alguns Pesos


Me livrando de alguns pesos...

Chega uma hora na vida que a gente quer uma via de mão dupla... Com coisas indo e vindo.
Parece bater uma vontade de ser completo sem as metades de ninguém... ser inteiro por si só.
E aí... a gente desiste de se sentir aflita e agoniada por coisas como a espera por respostas: - ser ou não ser? -fazer ou não fazer?
Como se a vida fosse um dilema dramático shakesperiano.
Ando bastante cansada p/ meu teatro de verdades. E isto deve ser por causa da idade ou, das experiências... Sei lá...
O negócio é que ando sem tempo para perder com coisas que nunca me levam a lugar nenhum...

Já perdi tempo demais... já "pedi" tempo demais... já dei tempo demais... E o tempo não é artigo... é substantivo... ABSTRATO.
E o que é abstrato... não é palpável... Coisas abstratas me irritam, às vezes. Parecem ter um "q" de superioridade por não conseguirmos tocar... não conseguirmos parar... não conseguirmos apagar...

Ando meio largada, mesmo... sem estas coisas de esperar qualquer coisa de alguém. Aprendi a lidar com minhas expectativas e parece que estou vivendo melhor por isso.

Talvez um dia eu consiga dizer muitas coisas... e viver muitas outras que sempe acreditei.

Por enquanto... só consigo dizer que você, às vezes, faz falta.
E viver...  de acordo com o que me faz bem e feliz.
 
Débora Andrade

Os Encantados


Os Encantados

Há sempre uma magia e um encantamento natural peculiares aos que sonham muito.
Pessoas assim transformam o normal em sobrenatural.
Estão sempre inventando alguma coisa...
Estão sempre a florear o deserto, a se deliciar com o doce das nuvens do céu e a correr como água pelas curvas dos rios.

Inventam, acreditam e vivem o que criam.

Não se contentam com as estrelas do céu, “no” céu.  E então, fabricam céu particular no teto do quarto.
Pintam paisagens em suas janelas e, pelas tardes, alternam entre a vista do mar azul, que reflete brilhoso os raios solares e as montanhas verdes que escondem o misterioso sono do Sol.
Têm na porta da frente um mundo redondo de possibilidades. Inventam o tempo todo...
São capazes de nos trazer flores azuis encantadas colhidas dos seus próprios jardins.

Tudo é encantado... Nada parece mera coincidência. E tudo é pretexto para inventar a felicidade... E em um protesto musical, espantam as dores... Colhem, durante o inverno, seus amores.

O que não sabem os encantados é que a magia também cabe na realidade quando ela ainda está vazia.

Ternura, afeto, carinho, coincidências, almas, calma... Invente sua história. Abuse da sua imaginação.
Encantado, mesmo, é o que explode no coração.
Débora Andrade

Comunicação e Reconhecimento


Comunicação e Reconhecimento

A comunicação é algo muito interessante. Aliás, nós somos seres de comunicação e, por isso, é permissivo que nos entitulemos, sem modéstia, interessantes. É! Somos interessantes. Bem interessantes.

Vejam como é simples e, ao mesmo tempo, de uma beleza tremenda,
notar o que pode nascer de um encontro comunicativo. Através de um encontro comunicativo, na maioria deles, talvez (porque não é bom suspeitar que as pessoas não sejam verdadeiras na maioria do tempo) nos conhecemos.

Assim, trocamos o que somos e vamos nos transformando um pouco no outro enquanto o outro se transforma em um pouco de nós. E então, nos formamos, crescemos humanamente, aprendemos lições,
vivemos lições, nos transformamos em lições e, como que em uma
brincadeira de efeito dominó, nos transformamos e transformamos o mundo. O nosso ou o mundo mesmo, no sentido geopolítico da "coisa".

E a comunicação no século XXI? Algumas pesquisas recentes mostram que, apenas 7% da comunicação não verbal é feita por palavras. Os outros 93% é linguagem corporal, entonação de voz e outros elementos que só são possíveis "face to face". E, de imediato, vem a contradição: internet.

O mundo já é digital há algum tempo. Com as modernizações constantes e criações de inúmeras ferramentas de comunicação na era digital, hoje, temos orkut, msn, my space, twitter... E então, através da comunicação digital, sem entonação de voz, sem linguagem corporal... Vem a proximidade, o bem querer, o afeto e os laços. Laços que, às vezes, não são feitos com pessoas que estão ao nosso lado! E através de abreviações da língua e uma meia dúzia de emoticon, conseguimos criar, com magnitude e muito afeto, laços e até "nós" com o "nick" que pisca laranja na barra de tarefas.

Mas... e a pesquisa? Os 93%? A entonação de voz, linguagem corporal, a velocidade das palavras pronunciadas? O corpo não fala?

Claro que o corpo fala. Aliás, o corpo grita, às vezes. E é bom que ele nunca se cale. Há de se alternar os discursos e os temas, um dia. Tudo se transforma! Não é o que colocamos de início? Mas a comunicação é feita de "coisas além". E também é permissivo chamar de "coisas além", já que ainda não há nenhuma pesquisa quanto à isto. É provável que tenha alguma sobre "energias" e "cosmos" ou afins, mas não vem ao caso agora.

Agora, vem ao caso explicar o motivo de todo este discurso aqui. É só para tentar explicar o processo de reconhecimento entre as pessoas. Quando pessoas se reconhecem a comunicação vai além do que se fala. Vai além do que se ouve. Além do que se lê. Por isso é bom repetir o quanto somos interessantes.

Seja pela internet, por telefone ou pessoalmente... nós nos reconhecemos no outro. E isto não acontece pela entonação da voz, pelo gestual e pela leitura. E isto não se dá por meio de perguntas prontas como: - Qual seu nome? De onde você "tecla"? Que idade você tem? Quanto você mede? E quanto pesa? Loiro ou moreno?

Querer saber o estilo musical, leitura preferida, o que faz sorrir ou chorar, o que faz tirar os pés do chão e voar ou, ainda, se sabe dançar... só é parte do processo, mas... o reconhecimento é pronto. Não há pesquisa que explique e não há receita que oriente. Se é para reconhecer... Recohece. Nos reconhemos.

Suspeito que somos predestinados.


Débora Andrade

Desastrados


Desastrados

Pessoas desastradas costumam não ter cuidado com nada. Por onde passam sempre deixam um pequeno estrago. Estão sempre a causar certo prejuízo e alguma descontração. Não são assim porque querem.  São assim porque são.

Eu sou um tanto desastrada. E, por isso, procuro manter alguma distância de objetos frágeis de grande valor. Já quebrei um bocado de coisas, já causei certos prejuízos mas, já causei alguma descontração.

Tenho tentado ser menos desastrada. Ou, pelo menos, tentar ser desastrada apenas com objetos e nunca com pessoas. Tenho procurado ter um certo cuidado, até porque, gosto dos frágeis e de grande valor.

A fragilidade é como cápsula de fina espessura que guardam compostos de força e explosão. Semelhantes àquelas “super” vitaminas “milagrosas”, quase sempre importadas e raras.

O valor das pessoas? Bom, este não pode ser medido pelo valor da matéria prima ou, ainda, pelos índices da Bolsa de Valores. É um valor sem medidas, não contábil. E é quase incontrolável quando este valor cresce, cresce.

Por vezes, cresce tanto que quase não alcanço. Sou de estatura mediana. Sim, eu sei tirar os pés do chão e gosto de voar. Mas meu vôo é conduzido pelo vento, que nem sempre sopra na direção que quero. Ainda obedeço a certas ordens naturais e vivo minhas limitações humanas. Portanto, tento conduzir o valor até onde eu alcanço. Por mais que eu deseje o aumentar dilacerado e descompassado deste valor.

Estranhamente, tenho vivido uma era de cuidados. Já disse acima que tenho tentado ser menos desastrada. Mas não se animem muito, não. Se me tiverem como visita em suas casas, escondam todos os cristais. Só não se escondam de mim... É para isto todo o meu cuidado. Um certo “receio” me tomou de assalto: por medo de perder por estar perdida, me refiz e, agora, tento ser mais calma e mais cuidadosa.

Tomara, um dia, eu não precisar do vento para chegar tão alto... (reticências).
Débora Andrade

Analogia Entre Pessoas e Livros


Analogia entre Pessoas e Livros

Livros de Contos, Ensaios, Crônicas, Romances, Científicos, de Bolsos ou, até, Enciclopédias: certamente, todo mundo conhece alguém que caiba em uma destas categorias aqui.

Assim como os livros existem pessoas que precisamos apenas "provar". Uma leitura e parece tudo, sinteticamente, absorvido e sentido.
Existem outras que precisamos devorar, ler mais de vinte vezes, destacando os pontos mais complexos e buscando uma compreensão maior, um entendimento que não se satisfaz em uma leitura única. É preciso mais atenção e dedicação para a compreensão de cada frase.
Há, ainda, os poucos que são indispensáveis. Estes livros (leia-se pessoas) a gente gosta mesmo é de ler, devorar, mastigar até digerir. Geralmente são os que nos consome um tempo maior e entendê-los é quase um exercício de entendermos a nós mesmos. São complexos e, por vezes, quase desistimos de chegar ao final. Porém, não há como negar! Sem nenhuma dúvida, serão estes livros que recordaremos suas frases e suas lições sem grandes esforços.

“Minha vida é um livro aberto”, alguns exclamam e potencializam esta analogia. Livros fechados nós só lemos a capa. Não conseguimos chegar nem no prefácio.
Mas, pensando por outro lado, nada vai adiantar um livro aberto se suas páginas estiverem escritas em hebraico.

Eu só sei ler em português.
Débora Andrade

Danço


Danço

Descompassada.
Fora do ritmo.
Desengonçada.

Pés, pernas, corpo e alma...
Embalados pelo som leviano da solidão.

Não há público.
Não há palco.
Só há ilusão.

Um dia já foi estrela.
Com saudades de si mesma, fechou o livro que lia e pegou o caderno para escrever o seu. Esboçou suas primeiras linhas de recordação:

No palco solitário de tábuas corridas, já um tanto gastas e velhas, a cortina vermelha mostrava as pontas dos pés de quem ali, no mesmo lugar, escreveu histórias bordadas pelo mais doce calor de aplausos e admiração. Eram meus pés.

A cortina cobria meu rosto vermelho que chorava a dor do meu último espetáculo. Foram anos dançando no mesmo lugar. E a cada dia, a cada espetáculo, a cada dança e a cada passo, me vinha uma sensação diferente.

Me alimentava dos olhos brilhantes e entusiasmados que assistiam aos meus movimentos, às vezes lento, às vezes sereno e sempre agressivo na forma de conduzir os saltos, que era a maneira que gostaria de conduzir minha vida.

A dança, quando cheia de sentimento e entrega, provoca sonhos muito além da imaginação. As almas expectadoras, nem sempre calmas, esperam pelo ápice da fartura desta mistura de movimentos e sons. Aguardam pela satisfação entusiasmada de... "sou mais que um corpo sem estação".

Porque, na verdade, todos nós desejamos nos sentir mais do que somos. Todos nós desejamos sentir mais do que sentimos. E por fim, somos menos do que tudo que poderíamos ser.

Me levanto e, ainda no palco cheio de mim... cheio das minhas lembranças... Saio a andar e não escondo mais meu rosto vermelho. Abro as cortinas e meus olhos ainda choram. Lamento a falta de público. Porque, de tudo que apresentei ali, para tudo que senti havia alguém a registrar.

É difícil não ter quem registre uma despedida.
Não há ninguém para ver minha solidão. Não ouço aplausos. Não tenho o brilho dos olhos de admiração. Já não há mais público.

De tudo, tenho as boas lembranças e, ainda, a dança. Mesmo descompassada... mesmo desajeitada... Sem ensaios prévios, me entrego ao compasso do meu coração.

Não desço do palco. Não saio de cena.
Danço enquanto restar a última gota da minha emoção.

Débora Andrade

Invento


Invento

De posse das minhas fantasias, retomo. Vou escrever sobre o que não existe. Afagar esta dor de ser só e inventar meu amor.
Por hoje me permito ser amada como sempre quis ser.
Por hoje me reservo e me dou o direito de me inventar, de te inventar e de viver nas minhas linhas as minhas invenções.
Os pensamentos me tomam na cama. Minha mente nunca faz silêncio. É difícil o sono chegar. De imedato, me pega o sonho e me coloco a rabiscar meus versos. Construo nesta folha branca meu encanto sem dor.
Ah! Por hoje e por ora me permito ser tua. Tua como eu sempre quis ser de alguém. Completa e completamente...
Na pretensão de construir obra literária, me vem à possibilidade de inventar e então, traço nossos destinos. Ouso construir algo meu. Penso construir algo teu. Escrevo construindo algo nosso. É mesmo tudo invenção!
Por hoje eu quero o céu. Eu sempre quis o céu. Estrelado ou não, com Lua imponente ou tímida.  Sempre quis os mistérios deste azul misturados aos meus. Sempre quis dançar sobre nuvens sem formas, acompanhada de quem me abraçasse doce e me fizesse esquecer que o chão é meu ninho. Sempre quis tocar a Lua com uma mão para manter a outra presa àquele que me fizesse dividir ternos olhares entre o que há nos limites do Céu e da Terra.
Por hoje eu me permito ser tua, completamente.
Aproxime-se e traga até meus ouvidos tuas palavras que me aquecem e molha a minha boca que, sedenta pela tua, procura do teu gosto em cada centímetro de pele nua.
Depois, encosta teu ouvido no meu sorriso e me tome todo o festejar e fogos que brilham meus olhos para o que te é eterno. Morro só de pensar que posso ser breve.
Arranca de mim, suave, toda expressão que tenho e não tive. E alimenta ainda mais este inquieto desejo de te ter sempre e muito.
Finca no meu peito o teu nome e escreva no meu corpo a tua história com tinta que não se apaga. Porque não sou folha em branco, mas há em mim um espaço reservado para tuas letras. E no mais, a única folha que se rasga é esta que escrevo. E por hoje... Por hoje basta de inventar.
Débora Andrade

Questiono


Questiono

Começo ou termino? Escrevo ou arrumo as malas? Resposta: - Penso!!! Sempre penso!!!

Há quinze bilhões de anos, mais ou menos, “Big Bang” (barulho) e, toda energia concentrada e densa sofreu uma grande explosão e assim criou-se o Universo, dizem os cientistas.

Já Deus, em sete dias, criou céus, terra, luz, trevas, águas, árvores frutíferas, sementes, animais (a serpente, por exemplo), Sol e Lua para separar o dia e a noite e ainda criou o homem (Adão). Depois de tanto trabalho, descansou no sétimo dia, conta Moisés no primeiro livro da Bíblia, Gênesis, escrito, segundo registros, em 1410 a.C. (antes de Cristo).

Quanto à criação do homem, a ciência diz que somos uma evolução do macaco. Mas quem criou o macaco? Se, por acaso, alguém responde que foi Deus, quem criou Deus?
A energia concentrada e densa que sofreu a explosão há quinze bilhões de anos dando origem ao Universo, quem criou? O que era o tudo antes de ser... tudo?
Quem contou para Moisés que Deus criou o Universo? Claro que é uma bela narrativa a Criação do universo. Prefiro isto à teoria do Big Bang. Muito mais romântica. Aliás, quem ensinou Moisés a escrever assim?

“Adão e Eva”, “Os Sete Pecados Capitais”, “A Arca de Noé”, entre tantas outras histórias da Bíblia, seja novo ou antigo testamento, são histórias fascinantes! E se não fosse pela linguagem rebuscada, diria que são histórias pós-modernas! A tentação, a traição, o descontrole sobre os instintos, as tragédias naturais, luxúria, avareza, inveja, gula, ira e até mesmo a condenação de saber a diferença entre o bem e o mal, são temas mais que atuais, apesar de terem sido tema do primeiro livro de toda a história da humanidade. Impressionante como os “profetas”, assim chamados todos os escritores da Bíblia, são contemporâneos à nossa realidade!

Os dilúvios, por exemplo, não são mais privilégios só de Noé. É só ler ou ver o noticiário de hoje. A diferença, talvez, pode ser a Arca. Ou melhor, a construção dela. Porque, dificilmente encontraríamos nos dias atuais um homem como Noé. Os heróis de hoje demandam de pouca fé. São escassos!!! Poucos e raros, geralmente são tão ocupados em matar a fome que não resta tempo para pensar na falta dos sentimentos que rompem os laços do mundo. Tem estômago gritando mais alto que a dor de quem perdeu a fé. Assim fica difícil construir uma arca a espera de um dilúvio que nem sabe se virá.

Talvez os chineses!!! Mas só porque são prevenidos.  Eles constroem abrigos para se safarem dos terremotos. Mas a orientação vem da ciência e não de previsões místicas. Noé não contava com a previsão do tempo e, ainda assim, construiu sua arca.  Será esta grande diferença dos tempos? A decadência dos sentimentos?

Sobram teorias e falta fé. Fé em qualquer coisa que nos é abstrato. Não digo fé em Deus. Digo fé em (repito), “qualquer coisa que seja abstrato”: amor, respeito, generosidade, companheirismo, amizade... E a própria fé! É preciso ter fé na nossa fé. “Minha fé em pó, solúvel, minha fé em pó!” É preciso acreditar em nós e nos nossos sentimentos que a ciência não explica, mas, mudam o mundo. Mesmo que seja o seu mundo. Mesmo que seja o meu. Mesmo que seja um mundo só. Mas os sentimentos mudam o mundo.

E não sou arrogante a ponto de achar que esta é a grande solução para o Universo. Eu ainda nem sei como ele foi criado!!! Então, como arriscar uma solução?


Big Bang, Criação Divina, Antigo e Novo Testamento, antes e depois de Cristo? Qual o princípio de tudo? Será o fim? Como, se ainda nem sabemos do começo?

É... Vou viajar amanhã. Estou fazendo as malas. E acabo de chegar à conclusão de que preciso de um baú sem fundo para levar tantos questionamentos sem respostas.
Deixo nestas linhas mal escritas um pouco do barulho que tem minha cabeça.

Débora Andrade

Será Preciso?


Será Preciso?

Será preciso ter a sensação de estar perdendo tempo ao deixar as portas e janelas sempre abertas sem nenhum medo de que algo ou alguém entre ou saia sem avisos prévios?

Será preciso uma avaliação criteriosa sobre tudo que voa e repousa leve nestes meus braços que sempre acolhem aflições que nem sempre são minhas?

Talvez seja preciso me colocar limites que nunca me dou. Ou ainda, deixar que o medo, às vezes me faça visitas breves. Porque também é importante ter a sensação de que pode dar tudo errado só para ter o gosto bom de vencer obstáculos que inexistem aos olhos de quem não vê tempestade como fenômeno físico destruidor.

Talvez eu tenha que equilibrar todo este sentimento que se une em prol de mais sentimentos ainda. E tenha que parar de plantar em solos férteis esta semente de amor que só tem brotado no meu chão.

Talvez todo este meu exagero que me faz voar tão alto, me distancie da simplicidade que é colher uma flor e enfeitar meus cabelos.

Talvez eu tenha mesmo que fechar a porta em dias de chuva e solidão. Nestes dias que todos os desabrigados procuram abrigo. Só para me sentir necessária. Porque não é todo dia que "mentiras sinceras me interessam".

Preciso é ter consciência do que é precioso. E fazer a triagem, mesmo que ela incomode e me faça descer do muro.

Preciso entender que eu sou só mais alguém. Sem muitos conceitos diferentes. Sem muitas experiências magníficas.

Preciso aceitar que todo mundo, um dia, fecha portas e janelas... e por motivos que são só delas, sem a menor necessidade de compartilhar das dores com mais ninguém.

Preciso mesmo é saber que se a luz tiver que entrar... ela entra mesmo que seja pelas frestas...

Débora Andrade

Mofo


Mofo

Mofo! O cheiro é de mofo. Estou arrumando meu armário.
Reorganizando e realocando nas estantes as prioridades da minha vida.
Mofo! Cheiro de mofo. Mas, hoje,  é este o passado que quero vestir. Amarrotado, mofado, esquecido, distante... desejado.

Hoje eu quero mesmo este passado de volta.

Aquele passado que fiz questão de esquecer no fundo do armário enquanto a dor chorasse em meu peito.
Aquele que escondi para não ter que ver seu rosto em cada lembrança. O passado que tantas vezes tropecei enquanto caminhava em direção à esperança.

Eu o guardei com medo. Medo de que não suportasse recordar a felicidade que vivi.

Quero o passado que  me traz de volta os seus braços... Seus abraços...
O passado que me coloca em teu colo e que me tira o fôlego de tanto amar...

Tiro do armário todas as nossas vestes de mentiras e verdades de amor.

Uso instantâneo, rápido e indolor. E o guardo de volta.

Preciso, às vezes, de lembranças de amor.

Fecho as portas do armário. Abri meus olhos e aqui... meu quarto, minha casa, minha solidão.
Apenas lembranças...

Mofo!!! Tinha cheiro de mofo.
Débora Andrade

Eu, por mim mesma


Eu, por mim mesma

Costumo ser o que desejo. Mas, na maioria das vezes, sou eu mesma, mesmo sem saber ao certo quem sou.
Tenho o costume de me dar asas, porém, sempre invento armadilhas que caio com facilidade.
Cair sempre me ensina a rir de mim mesma com gosto e, estranhamente, salivo gosto de vingança na boca, gosto que eu não desejo salivar por mais ninguém. Sim, sou cruel, às vezes.
Me maltrato e me curo. Tenho mania de autosuficiência, mesmo flertando sempre com a carência e o desejo de me entregar à qualquer colo.
Um dia eu já pensei saber bem da vida. Hoje? Hoje sei que a vida sabe bem de mim.  Claro que isto não me basta. Vivo a questionar motivos e razões para tudo. Mas...
Intensidade: esta, talvez, é a palavra que me descreve bem.

Débora é esta que, mais uma vez, se faz palavras na tentativa egoísta de se desvendar e se conhecer.  
Débora Andrade

Gorda


GORDA

Gosto de alface, rúcula, jiló. Um prato bem colorido, com combinações de fibras, proteínas e pouco carboidrato sempre me agradou.
Acho arroz gostoso, mas sempre achei desnecessário no prato do dia a dia. Uma vez por semana é o suficiente.
Frituras? Prefiro pratos assados. Batatas, chicknitos e pastéis: sempre arrumo uma maneira de levá-los ao forno ao invés de levá-los à gordura quente.
Se me chama para almoçar, não me venha com "fast foods".Estes sanduíches industrializados são péssimos. Sou bem mais um pãozinho integral recheado com cenourinha e ricota.
Doces? É. De doces eu sempre gostei muito. Principalmente em dias de "tpm". Só o chocolate para me salvar de tanta angústia.
Adoro dançar. Em qualquer festa sou sempre a última a parar,levando em consideração o detalhe de que não paro nem um minuto. Muito menos para comer! Quero é a pista de dança. E dependendo do evento, cerveja, pró seco ou caipirinha, que é ainda melhor.
Joguei vôlei durante um bom tempo da minha vida. Já tive época de ir pedalando na cidade ao lado só para tomar um sorvete. Isso mesmo! 15 km para ir, tomar o sorvete no banquinho da praça e mais 15 km para voltar.
Dificilmente o sorriso me abandona. Bem parecida com as anoréxicas, tenho desvio de visão quando me olho no espelho. Mas o engraçado é que quase nunca me vejo gorda. Me acho bonita!
Uso vestidos, saias, mini saias, bermudas, shorts, mini shorts, regatas, roupas coloridas!! Mostro os braços, mostro as canelas, a panturrilha, as coxas.
Adoro juntar todas as gordurinhas dentro do sutien para exibir o decote de um "pseudo" peito.
Adoro rímel, sombras, blush e gloss. E faço questão das minhas mexas loiras, sem falar que tenho carinho pela minha tatuagem e meu piercing no nariz.
Dificilmente vai me ver sem cordão, brincos ou salto. Nem depois de 30 sambas. Mantenho a linha fina.
Quando vou à praia, piscina, cachoeira ou rio, não me intimido. Que "mané" maiô! É biquini, mesmo.
Nunca fui uma menina, mocinha, e hoje, mulher magrinha. Certamente, não serei uma senhora magra. Mas isto nunca foi um problema para mim. Talvez por dar maior valor à outras coisas. Exemplo bom disso são o namorados. Desculpem meus ex's namorados e casos, mas, eles sempre foram muito mais interessantes do que bonitos! Ao lembrar de cada um, lembro de ações, da personalidade, do olhar, até do cheiro e da temperatura da pele. Raramente lembro com prioridade da imagem. Imagem se desfigura com o tempo.

O porquê desta crônica de hoje? De repente porque eu não gosto, não quero e não me importa nada lembrar que sou gorda.
Talvez para me forçar aceitar esta realidade, que só é cruel quando tratada como "anormal".
Na verdade, acho que é mesmo para dizer à alguns: - Obrigada, mas... Não precisa me lembrar. Minha saúde vai muito bem, obrigada. Não me venha com "é para seu bem". Me faz bem é um abraço apertado como declaração de amor e amizade.
Me faz bem saber que notam no meu sorriso a minha alegria que não vem das taxas de gordura. Mas da alma gorda de amor, de carinho, de calor.

E por último? - Ah!! Por último... E para saberem que não sigo tendências. E se você segue... Prefiro que não me siga.

Não tenho peso que impeça meus vôos. Minhas asas levam minhas penas bem leves a ponto de realizar manobras no céu.

Em algum texto eu digo: "Eu gosto de doces. Mas eu gosto mesmo é de gente doce!"

Deve ser por isso que sempre fui gorda.
Débora Andrade

Ao Dizer Que Ama


Ao Dizer Que Ama...

Ao dizer que ama...

Ao dizer que ama, não importa se diz para um amigo, um parente ou namorado... É preciso conscientizar que, as pessoas não são segundo a nossa vontade.

Cada um é à sua maneira.

Por mais que a tentativa de agir conforme nossas vontades prevaleça. Por mais que queiram agradar e fazer feliz, um dia a pessoa que você disse que ama, vai errar. E quem não erra? Você? – Impossível.

Por mais que seja construído um sólido currículo de bons antecedentes, de excelentes ações, chega o dia que a gente não atende às expectativas e “plaft”. Para onde vai o amor?

Ao dizer que ama, tenha a certeza plena que o amor compreende. Que o amor perdoa. Que o amor é benevolente e paciente. E, segundo palavras da bíblia, “Não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal.
Não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade.
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.”

Ao dizer que ama, tenha consciência de que quem recebeu a palavra, pode te amar também. E que se ama mesmo, vai saber o real valor dos teus atos, mesmo que eles não correspondam às expectativas.
Débora Andrade

O Vão


O Vão

Entre o passado, o presente e o futuro há o espaço. Há um vão onde a dor se esconde.

E o passado bateu, mais uma vez, na mesma porta.
Deixou entrar pela fresta. E a dor inundou todo o quarto.
Não há um único espaço sem olhos molhados.
Corpo encharcado de promessas descumpridas refletindo toda a dor.
Remexeu todos os  armários e quase nada mais lhe cai bem.
Foi um bom tempo engordando e emagrecendo de ilusão, saudade e solidão.

Perdida. E sem caminhos à frente.
Apenas um único vão onde se esconde da vergonha de se sentir só.
Perplexa. Diante do gigante ego que amedronta, que expele o orgulho e a vaidade de nunca esperar não ser correspondida.

Fala. Fala mais. Fala só para ela.
As palavras nunca tiveram muito efeito sobre ele.
Escreveu mil poemas e nenhum penetrou este coração que não mais a pertence.
É de outra, é do mundo. É de ninguém.

Nada o entorpece vindo dela.
Nada o encanta.
Nada a enobrece.

Pobre menina.
Junte todas suas letras, seus passos de dança e sua melodia mais triste e faça arte.
O vão entre uma vida e outra é o mesmo entre passado e futuro.
Então, não espere saber o que fazer com estes passos pesados, inundados de saudade e solidão.
Este presente imerso em dor do passado, passa.

Menina, moça, mulher.
Segure as lágrimas.
Suporte a dor.
Siga, sinta, não se perca, amor.

O passado vai embora.
E logo chega a brisa da saudade,
com as trovoadas de dor.

Mas o futuro sempre será amanhã.
Débora Andrade

O Ponto Final


Ponto Final

Estas são nossas últimas linhas.
Chegamos ao fim, sem caminho, sem saída, sem partida.
Apenas o fim doloroso que provaca estas três letras.
Tão farta da mesmice deste dilacerar sem êxito, parei na esquina que cruzam nossos olhares de adeus.
Tão cansada destas mesmas linhas de amor, findo aqui esta história que, até então, não conhecia ponto final.
Toda a tolice de seguir até encontrar tuas mãos e toda esta história de amor eterno, morre sem o sustento da ilusão que não mais alimento.

Morre hoje o que nascia e renascia no calor dos teus braços.

Desta vez, o amanhã já é muito tarde.
Tenho pressa. Tenho sede. Tenho fome. E não tenho medo.
Respiro teus passos no ontem que, por enquanto, é vivo.
Ao hoje resta a dor.
Vou retalhando e sangrando meu peito até não que não reste mais nenhuma gota tua.
Enfim, sou dona de um ponto final.
Começo nova história com o coração ferido, porém, livre.

A minha alma já pode voar novos céus.
Teu azul não mais é meu desejo sublime.
Tuas nuvens tão densas de mistérios,
choveram minhas lágrimas sobre as flores. Espinhos não florescem.
Não tenho mais nada de ti.
Talvez, as lembranças.
Tenho ainda a história que, hoje, mesmo com dor, termino.
Chegou meu ponto final!

Débora Andrade

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Confiança


CONFIANÇA

Qual foi a última vez que você fechou os olhos e deixou alguém te guiar?

Costumava fazer isto quando criança. Geralmente, a pessoa que me guiava era minha irmã mais velha. Brincávamos de “confiança”.  Eu fechava os olhos sem medo porque sabia que ela não me levaria a nenhum lugar que eu não fosse amar. Eu tinha a certeza absoluta que ela só queria minha felicidade.

Quando andava de mãos dadas com minha mãe ou meu pai, eu brincava sozinha, mesmo. Fechava os olhinhos e saía a andar. Só às vezes pedia para ir com menos pressa e eles se zangavam: - Abre os olhos, menina! Brinca depois que estamos com pressa.

Posso contar nos dedos o número de pessoas que me deixei levar pelas mãos através da brincadeira “confiança”.
Depois da minha irmã mais velha e dos meus pais, vivi experiência parecida com meu primeiro namorado. Andava sempre de mãos dadas e, como um teste quase misterioso, fechava os olhos e me deixava levar por ele. Eu precisava saber se eu confiava mesmo, já que ele vivia dizer o contrário. E eu confiava. E era bom confiar.

Me lembrando desta brincadeira, recordei o quanto é bom ter em quem confiar. Ainda confio nestas pessoas citadas acima, embora o último não seja mais namorado. Mas, certamente, daria minhas mãos de olhos fechados a cada um deles por saber que só querem meu bem.

E, lembrando desta história, questionei também o motivo de ter tanto tempo que eu não fecho meus olhos e não entrego minhas mãos.
Ai, esta casca, este manto, esta farda de segurança tão frágil e tudo em vão.

Quero brincar de “confiança”. Mesmo que para isto tenha que voltar a ser criança.
Débora Andrade

Lamentações


Lamentações

Lamento por me permitir chegar a este ponto: - o de resumir minhas noites de insônia em lamentações sem rimas.

Também lamento pela falta de sono, pelas olheiras de amanhã, pela falta de dinheiro e pelas muitas idéias que fabrico durante toda madrugada sobre "como ficar rica".
Aliás, lamento por desejar ainda ser rica. Já era para ter conseguido isto.
Lamento pelos cálculos que antes eram feitos por possíveis fortunas e hoje são feitos por inúmeras contas a pagar.
Lamento pelo IPVA, pela declaração do imposto de renda e pelo acerto com a Receita Federal depois de cair na malha fina ganhando tão pouco.

Lamento por não ser mais a cdf do colégio, nem a capitã do time de vôlei, nem a garota que andava 15 km de bicicleta todos os dias.
Lamento. E lamento ainda mais estas lamentações que não deveriam ser minhas.

Lamento pela Terra Nunca ser só fantasia.

Lamento por insistir com os pés enterrados no passado enquanto a vida passa, enquanto ele passa.
Lamento ainda, não conseguir, pelo menos um dia, ficar sem pensar nele (mesmo que seja mal).
Lamento não dar "enter" e começar outra história, mesmo que seja para lamentar depois.

Lamento pelos passos obrigados a conhecer o fracasso, a desilusão e a distância da fé.

Lamento pela anfetamina, pela ração humana, pelos cremes anti-rugas e anticelulites.
Pela tinta no cabelo, pelo corte mais curto e pelas unhas vermelhas.
Lamento pelos CDs substituindo minhas fitas K-7 e por eu ter que reescrever minhas lamentações no computador.

Por fim, lamento por ter me transformado nesta pessoa que vomita suas lamentações na madrugada e no dia seguinte tem a cara lavada e sorriso no rosto, sustentando a bandeira de que vale a pena viver.
E difícil é aceitar que envelhecer e amadurecer fazem parte do processo.
Já são 02:38 da manhã. Preciso dormir.
Amanhã?

– Recomeço.
Débora Andrade

Prece


Prece

Pedi para diminuir o vácuo entre nós.
Para ter suas mãos, outra vez, a segurar as minhas.
Pedi que me permitisse, outra vez, falar com Ele como se fosse meu amigo mais íntimo.

Pedi a fé de volta.
A fé é arma de guerrilha.
E a maior guerra é a que travamos com nossos monstros interiores.

Pedi à Ele para que me lembrasse quem sou. Há tempos venho me perguntando isto. O tempo me fez perder a noção. Hoje me pergunto sempre se eu sou realidade ou, ainda, a ilusão do que eu desejo ser.

Pedi para que me usasse em Seu nome. Sempre tive a necessidade de ser útil.  Não sei viver se for só para mim.

Pedi proteção e luz aos que amo. Saúde aos enfermos. Paz entre os homens. Amor. Amor, outra vez.

Pedi que ficasse mais. Que ficasse para sempre.
E que me iluminasse com sabedoria para entender que, bondade é diferente de justiça.

Pedi, pedi, pedi. Quase uma hora pedindo.

Então, como antigamente, me repreendeu: - AGRADEÇA. E não me peça o que você mesma pode fazer sozinha.

Foi então que notei: Ele fez as pazes comigo.
Débora Andrade

Grito Ao Avesso


Grito ao Avesso

Desconheceste os meus passos quando me viu com pés descalços sobre teus cacos.
E o meu avesso que, antes te trazia em códigos decifrados letra a letra,
Hoje, carrega os versos que nos pertenceram e celebra o aconchego desta liberdade sem razão.

Hoje ouvi teu pranto no silêncio, demasiadamente, discreto.
Fechei meus olhos para viver teu desespero.

Fostes minha vírgula, minha respiração, minha paz...
Hoje grita tão alto uma exclamação que sinto a dor em miúdos, parte a parte entranhando pelas minhas veias.

Ouvi o teu socorro e a lágrima nasceu no canto dos meus olhos. Teu desespero me exaspera e eu quero te dar minhas forças.
O que há ainda de ti em mim, restou dos sonhos abortados às pressas. Dos planos findados pelas minhas mãos.

Sim, eu refiz nossa história e inventei um ponto final.
Mas nossos laços são extremos, superiores, intensos.
Nada desfaz o que há. Nem minhas invenções.

Te tenho amor, embora não mais te deseje.
Não quero que seja viva em ti a mesma dor que em mim parecia não acabar.

Te dou, enfim, minha voz. Esta mesma que clamou por um espaço no teu universo.
E com estima e apreço, lhe entrego minhas asas. As mesmas que voaram nosso céu.

Te dou um pouco de mim, que hoje, é resistência. É força. É doçura. É suave.
Porque não sou pássaro sem dono, nem anjo bom.
Mas sei que em ti, falta algo que sempre foi meu.
Débora Andrade

Vésperas, outra vez.


Vésperas, outra vez.

E o mesmo filme reprisa sem dó e com pressa.
Nascimento, infância, adolescência estranha e quase adulta...
Os sonhos realizados, os outros tantos refeitos, transformados... Alguns mortos, outros suicidas, alguns abortados pouco antes de serem concebidos... E muitos outros e tantos a serem conquistados, vividos...
Às tantas da manhã, ainda derrama lágrimas sabendo bem de quê e acorda com sorriso feito e sincero. É dela uma boba alegria de viver.
Abraça com os braços estreitos o que lhe é bem quisto, bem vindo. E aperta, quase sufoca, o que lhe são garantias de lembranças doces.
É estranha. Uma dualidade sem fim, uma contradição sem norte...
Às vezes é não, às vezes é só sim.
Mas deixou há quilômetros e há anos todas as certezas... Demorou, mas hoje finge que entendeu que as certezas se desfazem... Embora a sua certeza nunca tenha se desfeito...
Tem nos olhos o mesmo brilho. Só que,  às vezes, o opaco da razão o emudece.
E, embora ainda não saiba se é bom ou ruim, é teimosa a ponto de reinventar todos os seus passos, às vezes cansados, só para viver uma vida inteira.
Anda com medo dos “tics e tacs” do seu relógio. Ela tem tanta pressa que aprendeu a seguir só, caso alguém demore muito para ir.
Porém, vive a reclamar falta do abraço... do colo de quem nem precisa ouvir nada. Apenas sentir este coração que desaprendeu o ritmo e desacelera todas as paixões.

Vésperas... e, amanhã é primavera. O que nem é preciso para quem tem suas flores brotando todos os dias... E dos espinhos, faz arte com dor ou, com cicatrizes... Só nunca deixa de plantar as sementes...
Ela não sabe muito de nada... E nem pouco de tudo... Mas celebra sempre o viver...
Vésperas... e amanhã, mais uma primavera...
Débora Andrade

Primeiro Passo


Primeiro Passo

Ah, não me contenho!
Hoje me deu vontade de segurar as vírgulas, prolongar os pontos finais e abrir muitos parágrafos.
Acordei com uma energia vinda dos céus. Tocando em meu ouvido, mensagens de anjos.
E da luz do dia ao escuro do anoitecer, não encontrei escombros.
Tudo se construiu como uma narrativa de contos de fadas.
E, moço... Tocou!  Tocou a pele, os cabelos, os sonhos, tocou a alma...
Ah, não me contenho.
E te escrevo entre minhas linhas, até encontrar o nosso ponto.
Ah, e não se contenha!
Já não existe mais o meu disfarce e nem minha distância...
Nosso “talvez” em meio ao “quase” no seu último suspiro, sinaliza que pode ser o início de um sonho.
Amanhã, cedo ou tarde...
Sendo ou não...
Direi com fervor: - Não foi em vão.
Acordou meu mundo já bem cansado...
Reviveu fogo em meu coração...
Pode ser um pouco de amor, ou pode ser só um pouco de paixão..
E de tudo que ainda não sei,
O melhor é não saber se este já é o primeiro passo...
Débora Andrade

Torpedos no Celular


Torpedos no Celular

Fico esperando o sonoro “pim-pim”.  Passei o dia todo assim.
Lendo você em frases curtas, chegadas em torpedos rápidos.
Encantando-me com a surpresa de não conseguir te decifrar ou concluir o que pode estar acontecendo com você, comigo ou, entre nós.
E assim, entre torpedos, te tenho aos poucos. Me dou aos poucos.
Ainda, sem o teu gosto, invento teu toque dos cabelos às pontas dos dedos.
Nossos encontros, até então, carregados de mistérios e palavras engasgadas, domaram a minha impaciência. Dos olhares disfarçados e da breve e repentina aproximação, nascem certezas. Quero uma, duas, três, mil doses de você... Em torpedos, em palavras, em gestos, em toques, em beijos e abraços.
E entre declarações inesperadas,  embalo meus sonhos e me toco...
E me volto. Me controlo, me equilibro, me disfarço e me desfaço até acreditar que meus sentimentos se enganam.
Não me dou o direito de me meter na tua vida e te criar confusões.
Tenho aqui comigo, todas as minhas. E delas eu cuido, me resolvo. Me salvo.
E, depois de passar um dia todo com você tão perto e tão presente em meus pensamentos, sonhos e até planos futuros. Deleto os torpedos e te apago em mim.
Mantemos distância. Será melhor assim.
Débora Andrade

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Sem Ai, Nem Ui


Sem ai, nem ui.

Sem ai, nem ui. Foi assim que sempre seguiu a vida.

Aos três anos e meio, encantada com a fogueira e as histórias de pessoas que a cercavam,  calçava sapatinhos de lã e quis chegar mais perto. Claro que se machucou.
Das bolhas e dos cuidados excessivos do pai e da mãe, ficou a lição – quem brinca com fogo faz xixi na cama. Nem ligou para a bolha que cobria seu pequeno pé.
Desde pequenina tinha um certo fascínio pelas feridas e cicatrizes. Parece que previa que teria um monte delas quando crescesse. As feridas lhe deram a certeza de que viveu! E as cicatrizes, a certeza de que o tempo cura, mas não apaga.

Aos sete, enquanto brincava de ser she-ra com a irmã, deslizou no golpe que ela tinha certeza que poderia voar. Tirou os dois pés do chão e foi preciso apoiar com o braço. Das duas cirurgias e do braço imobilizado por quase três meses, ficou a lição – Voe alto. Mas voe para ver do céu o que é seu no chão. E nunca para golpear certeiro a fim de ferir alguém.

Subia em árvores, se aventurava entre patins, skates, bicicletas e carrinhos de rolimã.
Adorava a sensação do perigo, da velocidade e o frio na barriga valia até a bronca certeira da mãe.
Caiu muito. Se machucou tanto. Mas nunca deixou de viver a vida como uma brincadeira gostosa de criança. Do tempo que passou, as cicatrizes e nenhuma seqüela. Do que ainda lhe resta de quando criança? A coragem e o gosto bom de sonhar.
Hoje, apesar de saber que não é a she-ra ou nenhuma outra heroína, se salva todos os dias do desgosto destes dias sem poesia e frio na barriga.
E continua a se aventurar sem medo das feridas, pois sabe que um dia serão apenas cicatrizes carregadas de histórias que valeram a pena.
Débora Andrade

Diário De Carnaval


Diário de Carnaval

Abandono a terceira pessoa logo na primeira frase. Assim, como que em um diário, vou me transpor em letras sem vergonha, sem medo, sem receios de críticas ou conotações.
Algumas semanas antes do Carnaval comentei com algumas pessoas que seria meu último carnaval. – Calma! Não, não. Não vou morrer, não. (Pretendo, pelo menos. Já que esta é a única certeza que todos compartilhamos... que vamos partir um dia.) Mas o último no sentido da festa, da liberdade, da solteirice.
Bem cansada destes amores insípidos, inodoros, incolores e indolores... Estava bem empenhada a passar todos os outros carnavais acompanhada de alguém que, talvez, tivesse vontade de trocar uma noite de samba por filme e pipoca.
É verdade... Meus 27 anos tão bem vividos, sem nenhuma gota de arrependimento e muitas doses de intensidade, pesam e me cobram uma nova postura... Um novo sonho... Uma nova vida, talvez.  Casar, ter filhos. Cuidar do trabalho, da casa, dos filhos, do marido. Dosar as idas ao samba, à praia, ao rock... Uau! Tudo isto? E ainda parece melhor que estar sozinha?
Teimosa e cabeça dura. Perdi oportunidades e pessoas incríveis que eu poderia passar o resto da minha vida dosando as danças e as músicas, porque eram música e dança em presença na minha vida... Mas, não... Sempre achei que o bendito “amor” compartilhado deveria ser gigante e exageradamente verdadeiro! E hoje nem sei mais o que é de verdade...
Então, voltemos ao Carnaval. Insisti em uma viagem distante. Onde eu pudesse me ver longe do que tudo que já fui e ainda sou. Um lugar onde as paisagens pudessem preencher meus vazios e o sol pudesse bronzear cicatrizes e deformações, disfarçando a pele de quem já viveu tanto com só (agora só) 27 anos!
Eis que Florianópolis me presenteou com a graça da vista das praias, ilhas e me agraciou com Sol dourado durante oito dias! Me hospedei em um hostel. Era só para economizar, mesmo. Mas o Carnaval, meio que zombando com minha cara e todo aquele pensamento certinho acima, me brinda com novas pessoas. Ahhh... e como eu amo as pessoas, suas histórias, suas diferenças e suas particularidades.
Solteiras. Eram todas solteiras. E entre todas, as mais novas eram A (médica psiquiátrica, capixaba desbravadora de São Paulo), de 25 e eu, com 27.
Me encantei! A energia balzaquiana de uma contadora que se enfeita de minuto em minuto. Com a sua história de superação e mudança de vida. Depois de uma depressão profunda, renegou a condição de ser triste por tempo indeterminado e jogou tudo para o alto. Nova Vida era o nome do seu novo barco. E me deparei com uma mulher forte, determinada a ser feliz a qualquer custo, velejando em um mar de certezas onde a maior delas é: só depende dela! E com ela aprendi que eu posso morrer todos os dias, desde que eu renasça em uma nova vida. Com ela aprendi que é preciso renegar a algumas regalias para entrar neste novo barco, às vezes apertado e desconfortável, mas que te leva a aventuras incríveis sem preocupações de quanto tempo vai durar a viagem.
Da imagem frágil e sorriso doce, a revelação de uma microempresária bem sucedida e superação de histórias dolorosas. Chorei, sem vergonha, com sua história. Dez anos dedicados ao amor, ao relacionamento e um golpe fatal de realidade: era só um sonho de dez anos. 32 anos em carinha de 22 e no coração, o perdão de forma pura que nunca encontrei. Com seu castelo destruído, foi juntando os cacos reconstruindo sem pressa uma casa simples em bases mais sólidas. Encontrou sete estrelas e fez constelação no seu céu. E hoje vive sorrisos diferentes daqueles 10 anos. E em cada km rodado, se sente mais forte e, mesmo de encontro brusco com a realidade, não perdeu a capacidade de sonhar. Só não se precipita em realizar antes de sonhar. Com ela aprendi que perdoar é, também, se doar a si mesmo e se dar uma chance de apagar o passado de dor e guardar só o que existiu de bom.
Do susto, à surpresa. Ela tinha mesmo era cara de senhorita recém-casada. Mas estava lá, no quarto 40, no primeiro beliche e um armário desarrumado. Chegou fazendo barulho, acordando meu sono. Que coisa!
Tinha se mudado para aquele quarto naquele dia. E só por isso o armário estava uma “zona”. Depois, foi possível perceber o quanto era “arrumadinha”. Minhas bagunças eram muito maiores, como sempre. E não é que ela era solteira. Administradora, bióloga e funcionária pública. Dançarina, revelação do surf amador e, caramba!! É isto! Os 37 anos bem vividos da forma que sempre quis, construiu esta imagem de 29 que ela carrega num sorriso largo e numa fala mansa carregada de sotaque paulista. Meu Deus!! Ela estava ali tão feliz. Tão liberta. Tão exuberante. E com ela eu aprendi que a vida não segue uma linha de tempo como sempre nos ensinaram. Que eu não preciso marcar meu último carnaval, porque nada precisa ser último se tivermos vontade!
Ainda têm as cariocas lindas, loiras e bronzeadas. Com elas aprendi que o dia pode ser melhor que a noite quando a cidade tem mais gays lindos do que homens interessantes!
E a amiga de sempre. Aquela que antes dos 24 nem sabia sorrir. E hoje, com 29 recém-feitos, distribui sorrisos e quase se arrisca em uma super gargalhada. Mais desprendida, menos medrosa, quase bem humorada e o mesmo amor e amizade por mim.
Não foi meu último carnaval. Mas foi o primeiro que me deu a certeza de que não é fazendo cartilha que garantimos a felicidade.
Foi o primeiro que me enriqueceu de histórias que não são minhas e, no entanto, me fazem aprender de vida e superação.
Não foi só um Carnaval. Foi um grande encontro com várias formas que eu posso dar à minha vida.  E, em qualquer uma delas, ser feliz sem a menor preocupação de ainda continuar solteira!
Obrigada, meninas. Obrigada, Floripa. E ao Carnaval... Outra vez aprontando comigo, eu digo: - Valeu.
E depois do carnaval... Renovada fé. Reforçada paz. Revivida esperança. Restabelecidas certezas. Posto em dúvida a razão com sua briga constante com a emoção. E declarada a absoluta divindade que é VIVER! E ainda melhor: Conhecer pessoas!
Débora Andrade

Baby


"Baby"

E não precisamos nem mais que uma hora. Embora eu quisesse o tempo do mundo inteiro para perpetuar tuas palavras, teu toque, teu gosto...

Te senti. Me senti.  E todas as tuas palavras, tão livres, encheram meus ouvidos de um som tão bom... Que eu insisti em acreditar. E resolvi “creditar” um pouco de fé no que virá.

Da paz que me doa sem pretensão, retribuo com a tal liberdade que você diz ver em mim e se encantar.
Te dou sorrisos, e em troca, só este teu olhar às vezes sóbrio e, vezes tão misteriosos.

Do calafrio, do frio na barriga, da espera pelas ligações e pelos torpedos, o aumento dilacerado do teu nome no meu espaço.

Ainda em segredo, te guardo em lugar estratégico para depois da chuva, da tempestade que eu sei que virá e para além do arco-íris.

Tua paz em mim, teus segredos revelados e este teu astro... Insistem em me fazer crer que pode ser... sim, pode ser você.

Das tantas incertezas que regem nosso futuro e até nosso presente, já vivo uma única certeza: - Você me faz bem. E eu quero te fazer bem, também. Mesmo que seja só hoje, sem amanhã.
Débora Andrade

E Agora?


E Agora?

E agora? Agora você chega como quem quer ficar, deixe as malas na porta e jogue as pernas sobre o sofá. Deixe um espaço para eu deitar minha cabeça no teu colo e não economize os carinhos e o cafuné.

Com tuas poucas palavras, só me confirma que a escolha foi certa e que eu não preciso temer tanto. Você ainda nem sabe das minhas tempestades, mas trouxe as cores de volta para minha tela.

Tire o controle remoto das minhas mãos. Tome o controle para si daqui adiante. Eu não te disse, mas... me cansei de ter controle de tudo. Apesar de desconfortável, sinto uma emoção constante por me ver sempre surpreendida por você e por mim, pelos meus sentimentos desordenados e uma paixão em meio ao caos.

Me cuide, mas não me faça dormir sem antes te preparar a cama. Nem flores, nem lençóis  de cetim, não. Só quero tirar aqueles travesseiros. Eles carregam muitas dores, muitas lágrimas e angústias que você não precisa saber. Não preciso mais deles. Tenho teu ombro em caso de dor, teu olhar em caso de fuga e teu abraço em caso de medo.

E agora? Agora, talvez, você fique por dois ou três dias... quem sabe um mês ou a vida inteira. Mas chegue como quem chega para ficar. Me abrace com saudade de vinte anos e se jogue pela casa, pela minha vida, em meus braços. Sem promessas, sem planos, sem pontuação.

Chegue...Só chegue como quem quer ficar!
Débora Andrade

Última Vez


Última Vez

Eu só queria um único poder naquele momento: - o de paralisar o tempo.  E ficar ali, em teus braços... Me perdendo e me encontrando em cada terno olhar, em cada minúcia de nós dois.

E percebi que, talvez, o amor seja assim mesmo, sereno e doce. Sem delongas e tempestivas ações. Daquela forma, quase sem jeito, de você me tocar a face e alcançar meu coração.

Talvez, seja mesmo você.

Em cada pausa do teu monólogo, eu admirava tua entrega sem medo. E aquela falta de palavras (tão bem substituída pelo abraço que parecia ter sido feito, especialmente, para toda esta falta que havia em mim) me fez renascer no teu colo.

E eis que, depois de tudo falado e sintetizado no (talvez) beijo mais doce que eu tenha recebido, surge o desespero e a ânsia das lágrimas. Era a última vez? E o nosso silêncio condenou a resposta.  E tuas mãos junto às minhas, cegou o medo e calou a indecisão.

Você é meu instante de paz, embora o fogo me queime ao ter tuas mãos pelo meu corpo.
É meu resumo do dia quando, no balanço, existem mais sorrisos que caretas.

Te tenho em mim, tão breve  e tão lento, que poderia decorar o teu gosto e soletrar todas as palavras que teu olhos me dizem.

Talvez, sim. Seja você...
No tempo errado. Na medida certa. No lugar inadequado. Na dose esperada. No momento incerto.

E por aqui, o desejo te ter por perto até que os ventos soprem ao nosso favor e mude a direção.

Era a última vez. A última que eu suportaria semente.
Em todas as outras... raiz.

Me despeço, muda.
E ainda comigo, tuas verdades que só me fazem desejar outras (muitas – milhões) de últimas vezes.
Débora Andrade

O Câncer


O Câncer

Foi uma valsa, para quem não se arriscava em passos de samba ou tango.
Bailou e rodopiou pelo salão como quem não se cansava de inventar novos passos. E como dançou!
Mas o câncer é traiçoeiro. Te deixa respirar aliviado por uns instantes. Te deixa renovar a fé e até se vestir de sonhos. Então, vem no seu próximo golpe e, em todas as vezes, fatal.
Deixou que renascessem os cabelos, a cor na face e as esperanças.
E toda a família bailou junto. Em compasso com o presente e o futuro, nos brindando de expectativas cegas e fartas, dançou mais uma vez. Mais duas ou três...
E o corpo emagrece. Os ossos enfraquecem. A fé, de farta e gorda, pesa os ombros, as pernas, e incham as mãos.
Os sonhos se esvaecem... a dança, nem samba ou tango, perde o passo, o compasso... E eis que ele, o câncer, golpeia mais uma vez.
Fígado. Estômago. Esôfago. Órgãos.
E destas mãos grandes do céu, de onde veio a sombra nos momentos de cansaço ofegante, vem também o a chuva que lava nossos pecados e nos permite o perdão. Perdão por não nos manter de pé. Por duvidar e questionar os motivos da dor. Por não aceitar a marcha fúnebre no lugar do samba, do tchá-tchá, do tango.
E a maldita doença que te leva uma vez por dia e um dia por vez. Se alimenta do teu sangue, do teus órgãos, da tua fé... ainda sem explicação, vive a semear a dor da perda nos corações até dos mais fiéis.
Findo aqui sem grandes explicações. Porque não há. Porque a revolta ainda não me deu fôlego para respirar o alívio do perdão.
E dos passos de valsa, não restou nem o som.
Débora Andrade

O Cara


O Cara?

Eu sempre achei que o cara da minha vida fosse chegar com uma rosa na mão e, na outra, um livro de poemas autorais. Sempre pensei que ele, com todo charme e elegância, me convidaria para tomar um vinho enquanto declamava poemas de Neruda.

Ele não chegou num cavalo branco. E nem tinha arco e flechas.
Não me trouxe anel de brilhantes e nem viu a minha carruagem virando abóbora.

Mas ele tem meu sapatinho. E guardou como um brinde vindo dos céus.
Ele chegou assim, quase do nada. No lugar do livro, me trouxe palavras tão doces e sinceras, que me fez ter vontade de acreditar outra vez.
Contra o álcool, o vinho deu espaço à longas conversas e, com muito charme e elegância (sim!), nada peculiar a sua estatura de lutador de vale tudo, me ofereceu uma barra de cereal depois de um beijo de tirar o fôlego.

Meu Deus. E eu fiz tranças de Rapunzel e ele nem precisou de cordas para escalar minha muralha. Entrou no castelo pela porta da frente. E com toda a graciosidade do cara simples que não nega, raptou todos os meus ares de santa. Do profano ao sagrado, me tomou nos braços e eu coube ali com toda a minha falta de tudo. E numa completude quase insana, me libertei da clausura de conto de fadas. Fiz do castelo uma tapera só nossa. E ali tem nosso cheiro e até o nosso som regado ao sabor de prazer, felicidade e qualquer outra coisa que nossas cabeças sonharem.

E ele chegou. Suado, com trajes de luta livre e nas mãos, um pouco de mim. O que de mim havia ficado preso nos sonhos do castelo.

E toda surpresa se faz. Nem sapo, nem príncipe: - Homem. E se é ele ou não o tal "cara", nem questiono.
Basta saber o quanto me faz bem. E faz, MUITO bem...
Débora Andrade

Raiz


RAIZ

Por favor, tenha a calma das águas de um rio manso. Que, de semente em semente, vou brotando minhas / tuas flores.

E não me traga mentiras, dizendo que eu poderia nascer rosa azul em um deserto qualquer, como já ouvi um dia.
Sei que no teu solo já nasceram outras tão belas e graciosas que lhe foram importantes. Então deixe que eu nasça por aí com a mesma delicadeza. Mas cuide, para que eu renasça todas as vezes que meu caule não suportar a falta do teu ar.

Tive um passado de tempestade que devastou um campo inteiro de gérberas amarelas. Menti para mim, quase acreditando, que elas eram girassóis. Assumi a fragilidade das minhas flores sem espinhos e chorei em versos a falta das rimas.

Que decepção toda aquela verdade amarela que não seguia o sol. Morreu seca toda minha história de amor. E durante bom tempo, abandonei meu solo. Me esqueci de florescer.

Cuida e rega do meu solo até brotar nossa cor. Bem assim, nesta tua doce persistência. Não desista das minhas flores. Eu quero florescer para ti em todos os teus jardins e todos os dias.

Eu posso aceitar a dor de ter vivido em solo infértil quando sinto que foi preciso para que eu matasse minha sede em tuas águas.

Renovado o chão, brota letras do teu nome junto às minhas pétalas, anunciando, talvez, raiz.

Ainda não me pergunte como será. Deixe que o quase entone toda a perfeição que ainda não existe. E cuide para que nasçam flores com raízes.
O que tem raiz, não vai embora com tempestades. Parece que morre. Parece que acaba.
Mas... Renasce.
Débora Andrade